A força do amor

Por acreditar que a vida é bela, não me esqueci como se sorri....
O amor quando forte...rompe as barreiras do subconsciente....
Com base nessa crença...escrevi esta história ....de amor...paixão...dor e por fim.....felicidade
Elizabete Mota

parte I
Braga, doze de Agosto, as férias à porta, mais um ano se passou, de trabalho intenso, árduo, e essas merecidas férias chegaram.
José, engenheiro de trinca e quatro anos, preparava suas coisas, para ir de viagem com sua mulher, Raquel, uma jovem de vinte e oito anos, grávida, quase no fim do seu tempo de gestação e como tal, o casal não poderia ir para longe, não seria aconselhável.
Como tinham um apartamento em Espinho para as horas de laser, para fins-de-semana, seria o sítio ideal para descansarem e para Raquel ter a sua menina, pois o desejo dos pais, era que ela nascesse na terra da mãe, junto ao mar.
Às sete da manha pegaram no carro com destino a Espinho, iam felizes, um mês de descanso naquela praia maravilhosa, culminando com o nascimento de Sofia, nome que escolheram para seu bebe, seria o que o casal desejaria, para completar a felicidade que estavam sentindo, desde que se uniram às 2 anos e meio.
Pela estrada fora, Raquel ia falando, para fazer companhia ao seu marido, fazia projectos, sentindo o olhar do seu marido em si, um olhar de meiguice, de felicidade.
Ele amava demasiado aquela mulher e sentia-se orgulhoso de a ter ali ao seu lado, com sua barriguita grande, com um brilho no olhar e largando uma das mãos do volante, sem tirar os olhos dos de sua esposa, entrelaçou suas mãos nas dela, sentindo o calor, as carícias dos dedos dela roçando nos seus
- Temos tempo de namorar meu amor. - Disse José sorrindo, retirando os seus dedos.
-Daqui a pouco estaremos em Espinho, agora vou me concentrar na estrada.
Tinha acabado de pronunciar essas palavras quando Raquel deu um grito.
- José cuidado, olha esse camião que vem para cima de nós. - Os seus olhos deixaram transparecer todo o terror que estava sentindo no momento.
Foram segundos, minutos não se sabe, apenas que, momentos depois, tudo se apagou dos seus olhos, da sua mente.
Quinze de Agosto, Ana, uma jovem médica ortopedista de trinta e dois anos, estava de serviço nessa noite no hospital e foi mandada para a secção dos doentes graves, em estado de choque.
Devido à sua natureza meiga, era incumbida desses serviços, para o caso dos doentes que tomassem consciência e fizessem perguntas e foi por isso, que ela nesse momento estava no quarto de José, que jazia naquela cama inconsciente.
Esteve ali um pouco e fez-lhe espécie ainda ninguém ter aparecido naquele hospital para perguntar por ele. Saiu do quarto em direcção à secretária, chegando aí pediu para ver a ficha do doente do quarto catorze do segundo piso. Deram-na e foi sentar-se numa secretária para a ler.
parte II
José Luís da Silva, trinca e quatro anos, engenheiro, residente em Braga. Tirou a morada de casa e do trabalho do José com a finalidade de saber algo dele, se tinha família perto, para poder entrar em contacto com eles.
Saíu da secretária pensativa, sentindo que o pior estava para vir a seguir. Algo dentro de si, mexeu forte, um impulso repentino apoderou-se dela, dirigiu-se à secção da maternidade, entrou na sala de incubação, foi até o berçário, parou junto a uma incubadora e ficou estática, olhando.
Dentro dela, indefesa, estava a filha do José, essa inocente que estava ali, graças à força dos médicos que tudo fizeram para a retirar da sua mãe, momentos antes de ela fechar os seus olhos para sempre.
pensado
nessa manhã, para a morada do José.
Ficou a olhá-la, comovida, pensando o que seria da sua vida, sem mãe e com um pai acamado, inconsciente, paralisado, todo partido física e emocionalmente.
Deixou-se ali estar, por uns largos minutos, tentando inspirar-se naquela pequeno ser, a forma como haveria de dizer ao seu pai, quando ele acordasse, que ali deitada naquele berço, estava a sua filha, o fruto do seu amor por sua mulher.
Oito da manha, acabou o turno, pegou no seu carro e dirigiu-se para casa, estava extenuada e um bom banho iria fazer-lhe bem e de seguida ia dormir, pois a noite tinha sido em claro, entre atendimentos e vigília ao quarto de José e muita emoção tinha sentido nessa noite.
-Ana depois dum bom descanso, ficas fresca para tratares dos assuntos que queres, agora banheira. -Sorriu com os seus pensamentos.
Adormeceu após o banho, seu sono foi inquieto, sonhou com um bebé nos seus braços e um homem a seu lado, que não lhe via o rosto, mas sabia não ser o de seu noivo Inácio e quando acordou desse sonho veio-lhe tudo à memória, deixando-a preocupada.
- Isso é do cansaço, da preocupação, só pode ser. - Afastando à força, esse sonho da sua cabeça.
Tomou um duche, vestiu-se, acabou o pequeno-almoço e dirigiu-se, como tinha Chegou lá, procurou a casa, bateu à porta e nada, ninguém respondeu. Afastou-se e foi à empresa onde trabalhava José e dirigiu-se para a sala de entrada, fazendo-se esperar por alguém que a atendesse.
- Boa tarde, que deseja a senhora? - Perguntou uma jovem. -
- Boa tarde, sou médica do hospital e gostaria de falar com o responsável da empresa. - Por favor siga-me. - Fazendo-a encaminhar para uma grande sala, onde na porta dizia, Gerência - Engenheiro Azevedo.
Bateu à porta, de dentro ouviu-se uma voz dizendo. - Entre!
- Engenheiro, esta senhora é a Dr.ª Ana, médica no hospital e gostaria dar-lhe uma palavrinha.
- Se faz favor Dr.ª, tenha a amabilidade de entrar, em que posso ser útil? - Com um gesto fê-la sentar-se na cadeira à sua frente.
- Temos no hospital um empregado vosso, o Engenheiro José Silva, como ainda ninguém foi lá para saber dele, senti que deveria vir aqui hoje, para saber o que se passa, quem é, para poder avisar a família - disse Ana baixinho.
- O José hospitalizado? Impossível Dr.ª, há cinco dias saiu com a esposa de férias para Espinho, deve haver algum engano.
- Sr. Engenheiro infelizmente não é engano. - Disse a Ana puxando dos seus apontamentos, entregando-os para as mãos. - Não é esse? -
- Meu Deus, mas é sim. Esta é a morada do meu sócio, o José, mas como ninguém me avisou? Diz a Dr.ª que já foi há cinco dias?
- Sim há cinco dias. - Devagar foi-lhe contando tudo o que se tinha passado, a morte da esposa, o nascimento do bebé e o estado lastimoso em que o José se encontrava.
O Engenheiro ficou parado, com as mãos na cabeça dizendo repetidas vezes.
- Não, não pode ser, isso é um pesadelo, eu estou a dormir, não pode ser verdade.
- Sr. Engenheiro, antes não fosse verdade, mas infelizmente a realidade é esta, dura e crua, só estamos à espera que apareça alguém para poder fazer o funeral da esposa.
- Mas porque é que o hospital não me avisou? - Continuava ele perguntando -porque teve que ser a senhora Dr.ª?
- O Hospital tentou telefonar, mas como era fim-de-semana e ontem foi feriado, ninguém atendeu e hoje ofereci-me para ser eu a avisar pessoalmente, o que estou fazendo neste momento.
- Obrigada Dr.ª, nós vamos tomar providências com o funeral porque tanto José, como a Raquel não têm pais, ambos eram órfãos, Raquel foi criada num orfanato e José também.
-Foi à custa de noites e dias sem comer e dormir que se tornou no engenheiro que é hoje, com bolsas de estudos, como única ajuda possível, para ser o homem que é. - Acrescentando de seguida:
- Quanto ao bebé, depois verei o que fazer com ela, até José estar em condições de poder tratar dela.
parte III
Ana saiu daquele escritório visivelmente perturbada, tudo aquilo estava mexendo com seu sistema nervoso, com os seus sentimentos e isso irritava-a e deixava-a sem forças também.
Foi fazer umas compras antes de ir para casa, à noite iria jantar com o seu noivo Inácio e certamente iriam até algum bar.
Eram vinte horas, quando o Inácio tocou a campainha, Ana foi abrir ainda vestida com um robe, tinha acabado de sair do duche, deu-lhe um beijo e fê-lo esperar na sala enquanto se vestia.
Inácio estranhou a frieza da noiva, estava habituado quando chegava a casa, ela pendurar-se no seu pescoço, beijando-o, mas nada lhe disse, esperava que ela lhe dissesse algo, sobre o que se passava.
Por sua vez Ana, tão absorta em suas preocupações actuais, nem reparou na sua atitude e a caminho do restaurante mantinha-se calada, ela que tanto falava, mas os seus pensamentos estavam lá longe, naquele hospital, naquele homem ali deitado e na sua bebé, aquela inocente que nos primeiros tempos de vida não iria sentir o calor do peito nem os carinhos de sua mãe, e nem tão pouco de seu pai, poderia ter a assistência necessária.
- Tenho que fazer algo, não posso deixar correr as coisas desta maneira, assim à toa, aquela criança, precisa de carinhos e eu vou dar-lhos, quer Inácio aceite, quer não - pensava Ana para si.
- Que se passa contigo Ana? Estás diferente hoje, longe daqui, de mim, de nós.
- Estou preocupada com aquele bebé, já viste que aquela criança não tem quem fique com ela nos primeiros tempos de vida?
- Estás preocupada com ela ou com o pai? - Uma nota de ciúme fez-se sentir em na voz.
Não ligando ao tom de voz do Inácio,
Ana respondeu com indiferença:
- Com os dois! Ambos necessitam de assistência e farei tudo para os ajudar.
Dando por terminada a conversa, Ana abriu o rádio, cantarolando a música que passava nessa altura. Inácio olhou de lado para ela, sem saber o que dizer ou pensar, via-a esquisita, como se ali ao lado dela estivesse uma pessoa estranha e não o seu noivo e tudo isso deixava-o ficar pensativo.
Sabia que nunca tinha sido muito meigo para ela, assim como para as outras suas duas anteriores namoradas, mas era feitio dele, porque amava Ana, disso ele não tinha dúvidas, mas o seu trabalho, a medicina estava em primeiro lugar na sua vida, mas gostaria que ele estivesse em primeiro lugar na vida dela, e vendo sua indiferença começou a sentir-se inquieto.
Foram jantar, quase num total silêncio, cada um, em seus pensamentos e quem de longe os visse certamente iria pensar que se tratavam de dois desconhecidos que partilhavam a mesma mesa, por falta de espaço.
Ana contava cada minuto, desejosa de chegar o dia seguinte, para ver seu paciente e o bebé. Inácio pensava que se seu relacionamento continuasse nessa indiferença, teria que ter uma conversa a sério com sua noiva.
Chegou finalmente o dia seguinte, Ana preparou-se para entrar no seu turno no hospital, tendo dirigido à pressa, como de uma urgência se tratasse. Assim que deu entrada ao serviço, vestiu sua bata e antes de começar as consultas, passou pela maternidade e foi ver Sofia.
Chegou lá e seu rosto iluminou-se, o bebé estava de olhinhos abertos, como se quisesse reconhecer o mundo inteiro, ficou parada a olhá-la e sentiu uma ternura que jamais tinha sentido por bebé algum, e nesse momento tomou uma decisão:
- Faltam poucos dias para ela poder sair da incubadora, se não tiver quem tome conta dela, serei eu que o farei, até o pai recuperar a consciência, e se o pai assim o permitir, ficarei depois com a menina até ele recuperar e poder tomar conta da filha.
Como tinha chegado 45 minutos mais cedo que o habitual, deu tempo a passar pelo quarto de José e assim o fez, e mais uma vez seu coração disparou ao olhar aquele rosto inconsciente, que nesse momento nada sabia da vida, nem da existência de sua filha nem da morte de sua esposa.
parte IV
Dezassete de Setembro, tinha-se passado um mês após o acidente, ninguém ainda tinha ido ver José nem sua filha, que estando já em condições de sair da incubadora, e o hospital não a podendo ter mais ali, Ana levou-a para sua casa, cuidando dela como sua filha fosse, dando-lhe todo o carinho que um bebé precisa e entre as idas ao quarto de José e os cuidados que tinha com Sofia, Ana ia fazendo sua vida, sentindo-se cada vez mais longe de seu noivo.
Com esses pensamentos mais uma vez se encontrava Ana junto à cama de José, quando o viu mexer-se. Saltou da cadeira e aproximou-se de José, quando o viu abrir os olhos acordando para a vida.
José olhou à sua volta e viu-se num quarto desconhecido, onde apenas se via uma cama, cama essa em que estava deitado, um mesinha de cabeceira e ao lado da cama, uma cadeira, e junto a ela, de pé, um rosto também desconhecido, olhando para si.
- Onde estou? - Perguntou com voz baixa, sem forças, e tentou levantar-se, mas...... Não, suas pernas não mexiam, encostou-se novamente à almofada, quando reparou que seus braços estavam ligados a um tubo, assustou-se, sua mente estava baralhada, nada se lembrava, apenas sabia quem era.
- Calma, não se mexa - uma voz suave, doce, murmurou a seus ouvidos - Já lhe explico, mas mantenha-se calmo.
Com a mesma voz doce, meiga, começou a explicar-lhe o acidente de que José tinha sido vítima.
Conforme ela ia explicando, sua mente foi-se abrindo para a realidade, vivendo nesse momento, tudo o que se tinha passado desde o grito de sua esposa até perder os sentidos.
- Raquel....., onde está minha esposa? Porque está aqui a senhora e não a minha Raquel? - Chame-a, quero-a aqui comigo. O bebé? Elas estão bem? - Um gritou soltou-se dentro dele, como um animal ferido, que pressente que algo de mal estava acontecendo.
Pegando na ficha que estava ao fundo da cama, a médica, sentou-se na cama ao lado de José, agarrou em suas mãos e com voz muito baixa, emocionada, como se não tivesse coragem de falar, começou:
- Sr. José, vai ter que ser muito forte, mas........, com esse "mas", mais som algum saiu de sua garganta
- Mas? - Perguntou José apertando suas mãos, com força, magoando-a, sentindo ela, a dor em suas mãos, a mesma dor que José estava sentindo em sua alma nesse momento, levantando-se, acariciou sua cabeça e prosseguiu, sentando-se novamente junto a José.
- Não pudemos fazer nada por sua esposa, as lesões internas eram muitos grandes, lutamos dois dias para a salvar e à criança, mas ela não resistiu, seu estado era muito débil, seu coração, suas lesões internas foram mais fortes, que a sua vontade de viver
Dizendo isso, as lágrimas correram em seu rosto. Pela 1ª vez em sua vida sentiu dor, ao dar uma triste notícia a um doente. José olhou para ela fixamente, sem a ver, a dor que estava sentindo, era forte demais para reagir, para ver algo à sua frente, nada dizia, gesto algum fez, os músculos de seu rosto contraídos bem mostrava o seu estado de espírito mas, momentos depois deu um grito.
- Não...., assassinos, mataram minha mulher, minha filha, eu quero-as aqui comigo, vá buscá-la, chame a Raquel - E mais uma vez tentou se levantar, tendo desmaiado de seguida, já sem forças para resistir a tanto sofrimento.
A médica, a correr, chamou a enfermeira, e juntas tentaram reanimá-lo, o que conseguiram minutos depois, tendo de seguida dado-lhe um calmante para ver se ele dormia.
Quando sentiu sua respiração, já calma, Dr.ª Ana, saiu do quarto pensativa, sentindo que o pior estava para vir a seguir.
Saiu dali com os ombros descaídos, tudo isso a tinha abalado e estranhava, porque nunca algo desse género lhe tinha acontecido, não se lembrava em toda a sua carreira, ter-se envolvido dessa maneira com um paciente.
Foi para a sala dos médicos lentamente, como se o mundo tivesse desabado em cima de seus ombros.
- Que se passa Ana? - Perguntou Inácio, médico cardiologista, e seu noivo, que se encontrava nesse dia também de serviço.
Ana desanimada, sentou-se numa cadeira e contou-lhe o que se tinha passado há momentos no quarto de José, tendo de seguida pedido a seu noivo que o fosse ver, porque ela estava com medo que seu coração não resistisse.
- Sim vamos - Disse Inácio, que dedicava sua vida à cardiologia, com 36 anos de idade, já era um cardiologista de nome, e seu amor à profissão o afastava de tudo o resto, de tudo o que o ligava à vida terrena, inclusive sua noiva, que ele amava, mas não sabia-lho demonstrar.
Inácio nesse momento não pensou que o homem que ia ver era o pai da criança que o estava afastando de Ana, que era o homem que nesse momento ocupava o pensamento e as atenções de sua noiva, apenas o via como doente, precisando de sua ajuda.
Seguiu à frente de Ana com passos largos e ela, atrás de si, ia-o observando, enquanto pensava:
- Tanto amor à profissão, tanta meiguice por seus doentes, porque não me dá um pouco dessa meiguice a mim? - Sorriu, um sorriso triste, sabia que ele a amava, mas que jamais o teria na íntegra para si, e isso a deixava preocupada, ela que sempre sonhou ter um grande amor, um homem que lhe dedicasse sua vida, seu amor, suas atenções.
- Ana, não são horas de pensares em ti - Foi seu pensamento, quando reparou que por momentos se tinha afastado de sua profissão, para se lembrar que era mulher, além de ser médica.
Afastou esses pensamentos de sua mente e seguiu Inácio, que nesse momento já estava entrando no quarto de José.
Inácio parou em frente à cama de José, ficou a observa-lo, destapou-o e viu o estado lastimoso em que aquele homem se encontrava e nesse momento, como sempre, só viu a medicina à sua frente, pegou nos auscultadores e começou a observa-lo, fazendo um gesto de contentamento ao olhar para Ana dizendo:
- Este coração está bom, nada o afectou, mas pelo sim pelo não, amanhã de manha, quero-o na sala de cardiologia para lhe tirar um electrocardiograma, mas em princípio esta tudo bem, ele é forte e com o tempo recupera estas mazelas todas.
- As pernas não, Inácio, elas não mexem, estão mortas, teremos que lhe fazer um exame rigoroso, e isso não poderá ser ainda, derivado ao estado que ele está, mas há dúvidas de voltar a andar - Dizendo isso seu olhar se enublou,
- Que será dessa criança que nesse momento está em tua casa? - Avós, não têm? Outra família? Porque terias que ser tu a tomar conta dela? Não há instituições para isso? - Indagou Inácio com o semblante duro.
- Ninguém apareceu, sabes bem disso, já conversamos sobre isso, que foi o hospital que fez o funeral de sua esposa, e eu por nada deste mundo, deixaria essa inocente ir para uma casa dessas.
Apaixonei-me por ela, eles chegaram aqui na ambulância, a mulher morreu ao dar à luz o bebé, e ele só acordou há pouco, quando eu estava aqui, um mês depois do acidente e pensas que irei abandoná-la? - Uma voz de revolta saiu dentro de si.
- Esperemos que ele melhore, pois não podes ter essa criança em casa, esse caso do pai e da filha está a afectar nosso relacionamento, pensa nisso seriamente - Dizendo isso saíu do quarto, dando-lhe um beijo na testa com indiferença, ficando Ana a olhar a porta do quarto por onde seu noivo saía.
Sentou-se de seguida ao lado da cama de José, deixando seus pensamentos correrem, era a única coisa que poderia fazer naquele momento.
- Como a vida é injusta, este homem vê-se que amava sua esposa, vê-se que vivia para ela, perdeu-a, Inácio tem-me aqui viva e pouco ou nada me liga - Uma lágrima correu em seu rosto.
Estava-a limpando quando sentiu José mexer-se, levantou-se e ficou a olhar para ele, viu-o abrir os olhos, olhar para ela e cerrá-los outra vez, como se tivesse medo do que ela lhe ia falar.
- Sr. José, como se sente? - Perguntou Ana, pegando em sua mão.
- Diga - me toda a verdade Dr.ª - Disse José com voz rouca, abrindo os olhos.
- Vou ser realista José - E esse José saiu-lhe espontâneo, como se já o conhecesse há muito tempo
- O seu estado não é dos melhores, não sabemos ainda se suas pernas vão reagir, estão paralisadas, mas só depois dos exames é que lhe daremos um diagnóstico definitivo, e não bastando isso, há muitas feridas em todo seu corpo, não sabemos se sua cabeça foi afectada ou não, pensemos que não, e mais agora que estou a falar consigo, estou convencida que não, mas.....
- Dr.ª porquê tantos mas.... Fale-me de vez, estou preparado para tudo, se perdi minha esposa e minha filha, já nada pode me afectar, fale tudo, mas tudo Dr.ª, sem omissões de espécie alguma - Disse José com voz dura, carregada de dor, de mágoa, de ressentimento contra o mundo inteiro.
- José, sua filha não morreu, meus colegas conseguiram-na salvar, fizeram tudo por tudo, para que ela sobrevivesse, é uma menina linda, esteve lá em cima na incubadora, porque quando sua esposa morreu e deu à luz, o tempo ainda não tinha chegado ao fim.
- Minha filha está viva? - Gritou José, chorando de seguida - Deixe-me vê-la Dr.ª, por favor, leve-me até ela - Dizendo isso esquecendo-se que estava ligado a tubos, tentou levantar-se.
- Não, por favor não se mexa, o senhor está mal - Disse Ana, segurando o braço de José, evitando que a agulha se soltasse.
- Quero vê-la, ela é minha filha, tenho o direito de a ver, quero saber se é verdade o que a senhora me está a dizer - Gritou José, desesperado num pranto convulsivo.
Ana tocou a campainha chamando a enfermeira, que veio a correr de imediato injectando-o para o sossegar.
- Errei Isabel - Disse Ana falando para a enfermeira
- Não lhe deveria ter falado ainda na filha, mas não resisti, pensei que o ia acalmar.
- Dr.ª Ana, não errou não, qualquer uma de nós teria feito o mesmo, pensando que isso aliviaria a sua dor,
A enfermeira, era uma senhora já de 55 anos, que dedicou sua vida aquele hospital, e que era o ai Jesus de todos os médicos que por lá passaram.
Pondo a mão em cima do ombro de Ana, reconfortou-a dizendo:
- Amanhã virá aqui um psicólogo consigo, Dr.ª e juntos ajudarão esse pobre homem.
Dizendo isso, sorriu para Ana, puxando-a para fora do quarto, levou-a para a sala dos enfermeiros, para lhe dar um café. - Agora fique aqui calminha, Dr.ª Ana, que eu vou para junto dele, qualquer coisa, eu toco a campainha e chamo-a.
parte V
Oito da manhã, estava acabando o turno, Ana antes de sair, passou pelo quarto de José que ainda dormia, com a força de tantos calmantes, que lhe tinham dado nessa noite.
Ficou a olhá-lo por segundos e antes de sair não resistiu, fez-lhe uma festa na cabeça, passeando seus dedos por seu cabelo, olhando seu rosto.
- Que feições bonitas este homem tem, que traços finos. - Ana assustou-se com esses pensamentos, nunca ninguém a tinha tocado tão forte, ninguém tinha chamado a sua atenção como esse homem, que dormia agora naquela cama, todo partido, todo escoriado e saíu dali à pressa, desejosa de chegar a casa e ver aquela menina linda, cujas feições eram idênticas as de seu pai, aquela criança que dum dia para outro conquistou seu coração e sua razão.
Chegou a casa, mandou a ama embora e ficou ela no quarto, olhando Sofia que dormia como um anjinho em sua cama.
Duas lágrimas correram pelo rosto, pensando o que seria de si, se um dia essa menina tivesse que sair de sua vida.
Entretanto no hospital, José acordou, olhou à sua volta, não se lembrando de nada de momento, mas aos poucos as lembranças foram chegando ao seu consciente e olhando para a cadeira do lado reparou que a pessoa que lá estava, não era aquela médica simpática e meiga.
- Onde está aquela médica que esteve aqui ontem? - Perguntou
- Acabou o seu turno às oito da manha e saíu para casa, hoje fica de folga todo o dia, amanha as 8 horas, já está ao serviço - Respondeu a enfermeira calmamente, mas sem aquela doçura que José precisava nesse momento, sem aqueles cuidados que sentiu ontem naquela médica bonita e morena.
Às 10 horas foi visto por uma equipa de médicos, que falavam baixinho, de maneira que José não percebesse, quando um deles chamou uma enfermeira para o dirigir à sala de electro, indo de seguida para outros exames.
A caminho da sala de exames, José pediu para ver sua filha, a Enfermeira que o levava ia para lhe dizer que ela estava em casa de Ana, quando chegou um médico perto dele, de bata e barba branca, que ouvindo seu pedido interferiu dizendo:
- Se portar-se bem nos exames, amanhã, irão ver seu bebé, desculpe não me apresentei - Sou o Dr. Fernando - Pediatra.
- Sua filha está aos meus cuidados - Sorrindo, acrescentou - Bebé forte aquela, está em boas condições e mais uns tempitos já estará a seu lado, vamos a ver se o pai é tão forte com a filha - Disse batendo-lhe ao de leve nos ombros.
- Obrigado Dr., cuide de minha filha, já que eu não posso fazer - Respondeu ligeiramente emocionado, olhando para aquele rosto bondoso que lhe fez lembrar o do anjo, que a noite passada esteve a seu lado.
- Esteja descansado, sua filha está a ser tratada como uma princezinha, ela será tratada por nós com carinho, agora tenho que ir ter com as minhas outras princesas. As melhoras - Saiu sorrindo, com seu passo lento, calmo, próprio de quem já estava habituado a lidar com casos difíceis.
Depois de Sofia acordar, Ana deu-lhe banho, de seguida o biberão que ela bebeu com gosto, tendo adormecido de seguida com o rosto colado a seu peito, gesto esse que a deixou emocionada, sonhando que aquela menina era sua filha e teria todo o carinho do mundo, para o resto da de sua vida.
No dia seguinte Ana, entrou ao serviço e depois das consultas externas foi ver José.
- Bom dia José, como vai essa recuperação? - Perguntou com sua voz meiga e suave
- Bom dia Dr.ª, estava à sua espera, queria pedir-lhe um favor, sinto-me bem, apenas minhas pernas não mexem, mas se me puser numa cadeira, poderei ir ver minha filha, mas não queria ir só, queria que a Dr.ª me acompanhasse - pediu José com ansiedade na voz
- José, quero falar de sua filha, primeiro de tudo. Como sabe, há um mês e meio que o José deu entrada nesse Hospital, esteve esse mês e meio inconsciente, sua filha melhorou e as regras do Hospital, é que as crianças só podem ficar cá, uma semana, após saírem da incubadora e como ninguém veio para tomar conta dela, eu levei-a para minha casa, para tratar dela esperando o José acordar, para saber o que fazer com a menina.
José ouvindo Ana contar isso, ficou atónito olhando para ela, como se de um fantasma se tratasse e gaguejando perguntou:
- Porquê? Porque a levou consigo? Porque fez isso? Por ela? Por mim?
- José, apaixonei-me pela sua menina, aquele rostinho conquistou-me, aqueles olhinhos, olhando para mim deixaram-me sem forças, para a deixar ir parar as mãos estranhas - respondeu Ana sorrindo
- Mas agora temos é que saber que nome dar à menina, pois eu chamo-lhe minha menina, porque deduzi que os pais já teriam escolhido nome para ela.
- "Sofia" -Dr.ª, foi esse nome que minha esposa escolheu para a nossa filha, e será com esse nome que será baptizada minha filha. Como a Dr.ª se chama? - poderia não se sentir bem com sua presença lá.
- Dr.ª onde vai? - Perguntou José seguindo com os olhos, o trajecto que Ana estava tomando
- Vou sair José, para ficar mais à vontade para responder ao meu colega, virei depois.
- Não Dr.ª, eu quero que a senhora fique aqui, é minha médica e não posso ter segredos para consigo, fique por favor, assim dá-me coragem para responder às perguntas.
- Tudo bem José, eu fico - Disse Ana sorrindo. Ao mesmo tempo que puxava duma cadeira para se sentar.
Estiveram conversando durante uma hora, hora essa, difícil para José que colaborou, com o médico, mas tendo por várias vezes ataques de choro compulsivo, mas que logo cessaram com o carinho de Ana, que ficou o tempo todo com suas mãos entre as dele, para lhe dar forças.
Quando acabou a consulta, Ana saiu do quarto com o psicólogo, e de caminho perguntou-lhe:
- Que achas Francisco? Devo trazer-lhe a filha ou não?
- Trá-la, mas ao mínimo estado de choque, tira-a daqui e tem um calmante preparado, porque duvido que ele vá reagir bem a esse encontro. Esse homem está muito traumatizado e digo-te mais, a especialidade é tua, mas a meu ver suas pernas não mexem porque seu psíquico não quer que elas reajam, mas depois me dirás após os exames.
Após falar com seu colega, Ana voltou ao quarto de José, para se despedir dele e combinarem para o dia seguinte, o encontro com sua filha.
parte VI
Ana foi para casa e quando lá chegou, encontrou Sofia no colo da ama ainda acordada, estava desperta, mexendo os pezitos e puxando os cabelos da ama com seus deditos.
- Boa tarde Dr.ª, tem aqui uma menina de ouro, não dá trabalho nenhum, come e dorme, há pouco acordou e fui encontrá-la acordada sem chorar, quando já era hora dela comer.
- Obrigada Teresa, pode ir-se embora, este tesouro agora fica comigo, só entro amanhã ao meio-dia e ela vai comigo para a consulta de rotina, depois passo por sua casa quando vier do hospital, para ficar com a menina.
- Até amanhã Dr.ª - disse Teresa, baixando seu rosto beijou a testa de Sofia com estas palavras - porta-te bem princesa.
Ana ficou um bocado ainda a brincar com Sofia, indo depois dar-lhe banho, para depois dar-lhe o leitinho e deitá-la, indo de seguida, tomar ela seu banho para esperar por Inácio que iria lá a casa essa noite.
Inácio chegou a casa de Ana por volta das 21 horas, vinha de semblante carregado, aliás, como era habitual, nos últimos tempos, desde que ela levou Sofia lá para casa.
Tentou mostrar-se carinhosa com ele, mas algo dentro dela, sentiu se quebrar, aquele carinho que sentia por Inácio estava amortecido, sentia uma certa revolta por ele não ter aceite Sofia, mas não podia obrigá-lo, e mais dia, menos dia, ela iria para junto de seu pai, coisa essa, lhe ia fazer doer a alma, mas sabia que assim foi o combinado com José.
Meia-noite Inácio foi-se embora, foram três horas em que ambos muito falaram e nada disseram e Ana mais uma vez sentiu que o estava a perder, não se apercebendo, que, quem a estava a perder, era Inácio.
No dia seguinte foi com Sofia para o Hospital para seu colega a ver, Ana queria que a menina tivesse todas as comodidades e toda a saúde do mundo.
Enquanto o colega estava observando Sofia, Ana foi até ao quarto de José, não sem antes, ter chamado a enfermeira, para lhe trazer uma cadeira de rodas, para levar José até à sala onde Sofia se encontrava, porque não estava autorizada para levar a menina ao quarto do doente.
A caminho do elevador, ambos iam em silêncio, como se um tivesse medo de perturbar os pensamentos do outro, entraram no elevador, José levantou os olhos, olhando para Ana, pegou em sua mão pedindo:
- Dr.ª, dê-me forças, para eu conseguir ver minha filha. Ana apertou sua mão e suavemente sussurrou:
- Vai sim José, vai ter forças para ver o seu tesouro.
Chegaram à porta do Consultório. Ana empurrava a cadeira de José, mas logo ele pediu para ela parar
- Espere, eu não consigo entrar, não tenho forças, ela não pode ver seu pai nesse estado. Ana sorriu dizendo-lhe:
- Ela não vai perceber José, ela é um bebé de mês e meio, e o senhor sabe bem disso - não arranje desculpas, se não quiser entrar, nós voltamos para trás e outro dia a verá com mais calma.
- Vamos entrar - Disse José respirando bem fundo, como que a arranjar forças e coragem para ir até ao local onde estava sua filha.
Enquanto Ana abria a porta do Consultório onde estava Sofia, José ia olhando para todo o lado à espera de ver sua filha, até que ela chamou o colega, falou-lhe baixinho e ele com um consentimento de cabeça saiu da sala.
Ana abriu as cortinas que separavam José de sua filha, pegou nela ao colo, dirigiu-se a José, olhando para ele, dizendo com uma voz suave, calma, meiga como se viesse dum mundo celestial
- José apresento-lhe a Sofia, a sua menina.
José virou o rosto para as mãos de Ana empurrou seu corpo e suas mãos para ela, agarrou-se à sua bata chorando
- Minha filha, minha princesa, estás aí, olha para mim querida, é o papá que esta aqui, para te conhecer meu amor - Seu choro ia aumentando, suas lágrimas, pareciam querer trespassar o corpo da menina, ao pegar nela, enquanto a punha em cima de suas pernas mortas, acarinhando-a docemente, para ela poder sentir.
Como se o pudesse ouvir, mais uma vez Sofia abriu os olhitos, virando-os dum lado para lado, parou seu olhar em José, como se a natureza a estivesse chamando, dizendo-lhe que aquele ali chorando, era seu pai, e ele, ali sentado, daria a vida para naquele momento poder levantar-se e dançar em volta de Ana com sua filha nos braços.
Ana estava assistindo a esse espectáculo maravilhada, se alguém lhe tivesse contado o que ela acabara de assistir, duvidaria mas não, ela estava vendo e sentindo com seus olhos, com sua alma, todo aquele amor-próprio do instinto paternal.
Pôs as mãos na cabeça de José e mexendo-lhe nos cabelos disse-lhe - Não é linda a sua menina? Quem diria que ao fim de uns dias, ela já estaria assim tão viva, tão rebitada, quase pronta para enfrentar o mundo lá fora, protegida por nós, de todo o mal.
- Linda Dr.ª? Minha princesa é a menina mais bonita do mundo - disse José com voz emocionada e com lágrimas nos olhos
- Mas como vou poder tratar dela? - Diga-me - Mais uma vez o rosto ficou humedecido com suas lágrimas, lágrimas de desespero e de dor.
- Ainda bem José que falou nisso, eu tenho levado esses dias a pensar, e como estou só, poderia continuar com ela em minha casa, com seu consentimento, logo que esteja bom, ela voltará para sua casa e aí podará tomar conta dela, dar-lhe todo esse amor que tem dentro de si, mas até lá eu adoraria dar-lhe o amor e o carinho que ela precisa - pediu-lhe Ana com um olhar suplicante
- Vou-lhe confessar uma coisa - Essa boneca, conquistou-me definitivamente, ficaria grata se me deixasse tomar conta dela, não só até ao momento em que o José tomou a consciência, mas até o José estar completamente curado e em condições de tratar dela.
- Não posso aceitar Dr.ª, embora eu saiba, que minha filha não poderia ficar em melhores mãos, mas a senhora tem sua vida, seu emprego, é muito jovem e terá que fazer sua vida, conquistar sua família.
- José, eu disse que poderia ficar com ela, e se mo deixar eu vou fazê-lo, arranjei uma ama, que a adora e ela ficará em minha casa até o José estar em condições de ser um pai a cem por cento, como sei que o vai ser. José apertou suas mãos e consentiu com um acenar de cabeça.
Estava emocionado e olhando para sua filha deu um suspiro e entre soluços ia dizendo:
- Princesa, tu vais ser feliz, ninguém te vai fazer mal, a mama lá em cima vai olhar por nós, ela vai-te proteger de todo o mal e vamos todos, te dar muito amor.
Acabando de dizer isso, deixou cair sua cabeça sobre o corpinho de Sofia e ficou desfalecido, sem forças.
Ana aflita, pegou na menina, tirou-a do colo do pai, pô-la na marquesa, pelo bip chamou a enfermeira e o colega, que logo vieram a correr, ficando o pediatra com Sofia, que chorava assustada com aquela confusão toda.
Ana e a enfermeira empurraram a cadeira de rodas para fora da sala, tendo antes, lhe dado um calmante injectável, porque toda essa emoção poderia ter feito mal à sua fraqueza física e psíquica.
Levaram-no para o quarto e Ana como tinha a menina para levar para casa, saiu ficando a enfermeira a seu lado caso ele acordasse, mas como as emoções tinham sido muitas e o calmante muito forte, José dormiu o resto da tarde.
parte VII
No dia seguinte na hora da visita apareceu um casal amigo de José e as enfermeiras não os deixaram entrar, sem antes terem entrado em contacto com Dr.ª Ana, conforme as ordens que ela lhes tinha dado.
Após terem verificado o estado emocional dele, eles foram entrando e ficaram impressionados com o estado lastimoso de seu amigo, mas nada fizeram ou disseram que deixassem transparecer essa emoção de tristeza por o ver naquele estado, apenas aproximaram-se da cama de José que dormitava.
José ao ouvir passos, abriu os olhos e sorriu para eles emocionado, havia quase dois meses, que não via nenhuma cara amiga.
- Carlos, Gabi, que bom ver-vos aqui, meus amigos, - as lágrimas correram por seu rosto desfigurado de tanto sofrimento.
- Meu amigo - Disse Carlos também emocionado - só soubemos ontem do teu acidente, quando chegamos de férias e fomos a vossa casa e como não estava lá ninguém, fomos ao teu escritório, quando nos informaram.
- Gabi, perdi minha esposa, minha Raquel, já não a vou ver mais - gritou José agarrando as mãos da amiga soluçando.
- Calma meu amigo, a vida é assim mesmo, agora tens é que pensar em ti, ficares bom para ires para junto de teus amigos que te querem bem.
- Como Gabi? Se estou paralisado! Se minhas pernas não mexem e nem de minha filha posso tratar, se nem minha filha posso criar?
- Tua filha? Que filha? - Duas vozes se fizeram ouvir ao mesmo tempo.
- Sim, meus amigos, Raquel deixou-me uma menina linda antes de morrer, até nisso ela foi boa esposa, foi-se, mas não me deixou sozinho, deixou-me a minha Sofia, o meu tesouro lindo.
- Onde está tua filha José? - Perguntou Carlos - Vamos tomar conta dela, ate te recuperares, ficará connosco, sabes que não temos filhos e será um prazer, ficar a tomar conta dela, até ficares bem de saúde.
- Quando para aqui vim, fiquei em coma um mês e tal, uma médica, ortopedista tem estado a tomar conta de mim, a Dr.ª Ana, e quando acordei para a vida novamente, ela disse-me que eu tinha uma filha e que como já não podia ficar no Hospital, levou-a para casa dela e tem sido ela, a tratar de minha filha.
- Não pode ser José - Disse Gabi - uma estranha ficar com tua filha, quando nós somos como se fosse da tua família, ela ficará connosco.
-Não, meus amigos, ontem quando a Dr.ª Ana veio mostrar-me minha filha, pediu-me para a deixar tratar dela, e como ninguém apareceu aqui até hoje, eu dei autorização para ela ficar com minha filha e não a vou tirar agora. - Ficará com ela até eu poder tomar conta dela - Disse José com voz firme
- José, não nos faças isso, nós não merecemos, nós só soubemos ontem dessa desgraça, por favor, se soubéssemos antes, teríamos vindo logo.
- Eu sei Gabi - Disse José já sem forças para saber como explicar a seus amigos, que confiava em Dr.ª Ana e que preferia que sua filha ficasse com ela.
O porquê dessa preferência, desconhecia, mas sentia isso dentro de seu ser.
Estavam nessa luta, quando apareceu Dr.ª Ana, que vendo o estado emocionado de seu paciente, pediu com voz meiga a Carlos e Gabi.
- Senhores, sei que são amigos de José, mas por hoje têm que o deixar, em dois dias, ele já sofreu emoções demais, isso só o prejudica. Podem vir cá todos os dias, mas agora precisam de se retirar, por favor.
- Certo Dr.ª, nós já nos vamos retirar - Disse Carlos - apertando a mão de seu amigo dizendo:
- Pensa no que te pedimos José, amanhã falamos.
Dizendo isso após Gabi lhe ter beijado o rosto, retiraram-se. Ana aproximou-se de José em silêncio, olhou para seu rosto e viu tanto sofrimento, tanta dúvida em seus olhos, a boca crispada dos nervos, e sentiu que algo dentro dela se quebrava, nesse momento viu algo que não gostou. Ela tinha-se apaixonado pelo homem que ali estava à sua frente, deitado naquela cama, sem se poder mexer.
Assustada, saiu do quarto sem nada lhe dizer. José, segui-a com o olhar e sentiu-se triste por ver que apesar de sua médica, aquela mulher, que tinha sempre uma palavra amiga e um carinho para ele, nada lhe dissera.
- Que se passa com ela? - Porquê essa saída brusca de meu quarto? Será que ouviu a conversa com meus amigos sobre minha filha?
Como não obteve resposta à sua pergunta, fechou os olhos e começou a lembrar-se de tudo, desde o dia que acordou, de como Ana o tinha tratado com carinho, de como lhe contado a morte de sua esposa e ao lembrar-se disso tapou o rosto e soluçou, com dor, com raiva
- Meu Deus - como sinto falta dela, porque ma tiraste? Porque me deixaste neste estado, sem ela? Sem poder criar minha filha? - Quanto mais perguntas fazia, mais chorava, parecendo uma criança.
Ana, que se tinha arrependido da sua atitude, voltou atrás ao quarto de José e deparou-se com aquela cena, esquecendo sua condição de médica naquele momento, chegou-se junto a ele e fazendo um carinho em seus cabelos, perguntou:
- Porquê José? - Sua voz estava embargada de emoção, ao ver as lágrimas daquele homem
- Dr.ª voltou - Disse José agarrando suas mãos - Porque me abandonou há pouco? - Eu preciso de si neste momento, não me deixe só, eu não quero mais estas imagens em meus olhos. Não quero mais me lembrar, que fiquei sem minha esposa. Eu amo-a tanto, Dr.ª, como vou viver sem ela daqui por diante? -
José no seu egoísmo, próprio de quem ama, nem viu que essa frase estava-a magoando, que essa frase dita com tanta dor, com tanto amor a fez sentir-se miserável, porque como médica, jamais deveria sentir atracção e muito menos amor, por um paciente seu.
Fez-se um silêncio naquele quarto, José olhava para Ana em silêncio e ela em silêncio também olhava para ele, sem saber como responder à pergunta dele, sem se trair, sem mostrar que o estava amando. Encheu-se de coragem e respondeu:
- José, já está dentro da realidade, agora só terá que a aceitar e saber viver com ela, e jamais se esquecer que existe sua filha para criar com muito amor.
José secou as lágrimas com o lençol e disse: - Dr.ª por falar na minha filha, certamente ouviu há pouco a minha conversa com meus amigos, eles querem ficar a tomar conta de minha filha
- Ana ao ouvir aquilo não o deixou continuar e magoada, com dor, disse: - José, a filha é sua, o Sr. faz dela o que quiser, amanhã mesmo, já a trago para a entregar a seus amigos - sua voz seca, longe daquela voz, que José estava habituado a ouvir daquela boca.
- Ana - pela primeira vez, esse nome saiu de seus lábios, mas ele nem nisso reparou - não me deixou continuar, eu não quero a minha filha com mais ninguém a não ser consigo, não me posso esquecer que foi a senhora que a protegeu, quando ela não tinha ninguém e se a Dr.ª ainda a quiser até eu poder tomar conta dela, assim será, ela ficará consigo, já disse isso a meus amigos e eles só terão que respeitar a minha decisão.
Ana ficou emocionada e em silêncio mais uma vez agarrou suas mãos e muito a custo balbuciou:
- Obrigada José, eu ficarei com a menina, eu já a amo como se minha fosse.
José sorriu com carinho, pela 1ª vez, Ana viu seu rosto sem estar contraído, e achou-o ainda mais interessante, suas feições meigas, sem traços de preocupação e isso deixou-a ainda mais atraída, mais preocupada e à pressa disse:
- Tenho que ir, ainda tenho consultas para dar e antes de ir para casa ver a nossa menina, passo por aqui, para ver como está e marcar as secções de fisioterapia que de principio irão começar 2ª feira. Veremos como essas pernas irão reagir.
- Obrigada Dr.ª dê por mim, um beijo à minha princesa - Sorriu.
parte VIII
Passou-se uns meses, o casal amigo de José transmitiu a outros amigos o seu acidente e todos os dias, os amigos o iam visitar e isso começou a fazer-lhe muito bem, já sorria e quando Ana levava a filha para ele a ver, já se ia embora do quarto, deixando-os sozinhos, porque sabia que ele já estava bem psiquicamente para estar com a filha naqueles momentos de privacidade, que parecia ambos adorarem.
Sofia, estava a tornar-se um bebe grande, cada dia suas feições iam-se tornando muito parecidas com o pai, o que deixava Ana mais atraída por ela, porque cada dia que se passava, reparava que já não podia negar, " ela amava José " e a sua vida com Inácio, estava-se tornando insuportável, as discussões, eram uma constante na vida deles.
Inácio queria ver Sofia fora de casa de Ana e cada vez que ele lá chegava, ela queria, era vê-lo longe dali, mas não tinha coragem de o dizer, não podia dizer que já não o amava, porque amava outro homem "José".
Quando fazia fisioterapia, sob a orientação de Ana, José queixou-se duma perna, parando de fazer o exercício.
Ana estava distraída, quando olhou para ele, viu que estava parado e com contracções no rosto, aproximou-se dele, perguntando-lhe onde lhe doía. José esticou a perna e ela ficou radiante ao ver o sítio onde ele dizia doer, isso era sinal que suas pernas não estavam mortas, sinal que ele, com muito esforço e força de vontade mental, voltaria a andar e disse-lhe, mas ao dizer-lhe mexeu na perna e ambos ficaram atrapalhadas, porque José inconscientemente colocou sua mão em cima da dela, retirando-a quando deu pelo seu gesto.
Ana nada disse, ficou em silêncio, mas por dentro ficou sensível, aquele toque em sua pele, deixou-a nervosa, com vontade de o abraçar, mas não, não podia.
- Ana tem juízo, ele é teu paciente, ele não é um homem que conheceste lá fora, ele ama sua esposa, e a amará sempre, lembra-te disso - a voz da razão, estava avisando-a.
Acabou a fisioterapia, Ana levou-o para o quarto e seguiu para casa depois, nesse dia já não tinha consultas e não estava em condições de voltar novamente ao quarto, pois cada dia lhe era mais difícil estar junto a ele e ouvi-lo falar em sua esposa, em sua vida pessoal antes do acidente.
Uma coisa era certa, havia uma união grande, estava começando a crescer uma forte amizade entre os dois e poucos dias faltava para José sair do Hospital e recomeçar sua vida lá fora.
Durante uma das sessões de fisioterapia, José Luís olhou para as mãos de Ana e nesse momento pela primeira vez, reparou que ela não tinha aliança, e sentiu uma mistura de agulha forrada de dor e de alegria e estranhou esse sentimento, que se tinha apoderado de si, ele jamais tinha olhado para as mãos duma mulher, nunca tinha tido essa curiosidade e como Ana nunca lhe tinha falado de sua vida pessoal, ficou a pensar o porquê dela viver sozinha e ao pensar nisso estremeceu.
Ela reparou e perguntou-lhe se algo lhe doía, ele sentiu vergonha de seus pensamentos e rapidamente exclamou:
- Senti frio, apenas isso, não se preocupe.
Acabou a fisioterapia, José Luís foi levado para seu quarto e Ana continuou com o seu trabalho no ginásio, mas não estava bem, sentia-se nervosa, inquieta e como era sexta-feira decidiu ir a sua terra, aproveitava e levava Sofia para sua família a conhecer.
Às 18 horas, dirigiu-se a sua casa, pegou no telefone, ligou para Inácio a avisá-lo que não estaria em Braga 3 ou 4 dias.
Mais uma vez houve discussões, ele queria saber o porquê daquela decisão tão repentina e Ana mais uma vez fugiu a questão, dando uma desculpa qualquer.
A seguir foi buscar Sofia ao quarto, mandou a ama embora e ficou ela a tratar da menina, aproveitando aqueles momentos puros, para se sentir um pouco de paz com alguém que nesse momento ela já amava, como se sua filha se tratasse.
Assim esteve até as vinte e duas horas, altura em que a menina adormeceu, cansada. Deitou-a e como ainda se sentia inquieta, foi até ao escritório e abriu o computador pensando:
- Vou navegar um pouquinho, há muito que não faço isso, preciso de distrair meus pensamentos.
Se bem o pensou, melhor o fez, e quando deu por si estava a abrir o IRC, sempre com seu pensamento longe, fazia tudo automaticamente, até que uma janela em seu monitor se acendeu, ela, mais uma vez respondeu, como se tratasse dum robô, respondia sem sentir, sem ligar ao que respondia, apenas estava ali, para ver se de sua mente saía a imagem de Zé Luís, aqueles olhos, que a fixavam sem a ver.
Sentiu-se mal de estar a incomodar e empatar uma pessoa que ali estava para se distrair, despediu-se e saiu do Mirc, foi ver os seus mails e como não tinha nada de especial para responder, fechou o computador e foi-se deitar.
parte IX
Levantou-se cedo, e como Sofia ainda dormia foi preparando suas roupas sem antes pegar no telefone e avisar José da sua decisão.
Assim que ela acordasse, partiriam para sua terra. Iria lhe fazer bem sair de Braga por uns dias, poucos, que fosse, iria se acalmar, deixaria de ver José Luís e podia ser, que assim, seu coração acalmasse um pouco e a deixasse ver que a realidade estava bem longe de seus sonhos, que nesse momento quase eram impossíveis.
Ao meio-dia chegou à Figueira da Foz, terra onde tinha nascido e onde se encontrava toda a sua família.
Já lá não ia desde o Inverno e achou aquela praia linda com os raios de sol a baterem na areia fazendo umas imagens prateadas. Parou o carro, pegou em Sofia e foi sentar-se na areia com ela ao colo.
A praia estava com pouca gente, Abril, ainda a maioria das pessoas se encontravam ao serviço, esperando o verão chegar para as suas férias.
Sentiu-se bem, estendeu a toalha na areia, deitou Sofia e deixou-se ali ficar por uns bons momentos, ora alternando seu olhar com carinho para a menina ora paras as ondas do mar, que quando chegavam perto, pareciam querer transmitir-lhe algo, mas sua mente estava muito confusa, ela nesse momento por muito que alguém ou algo lhe quisessem transmitir, ela não captava nada.
Ficou assim por uns largos momentos, quando olhou o relógio, viu que já eram 13h e 30m, a menina depois de brincar com a areia e gatinhar na mesma, adormeceu, encostadinha a seu peito, com um sorriso nos lábios, com um rosto confortado pelo calor que vinha de peito que para ela, era de sua mãe.
Pegou na toalha já dobrada, dirigiu-se para casa de seus pais, que já a esperavam, ansiosos e preocupados com a demora.
- Filha, que aconteceu? - Perguntou seu pai, com ar preocupado, Ana correu para seus braços, beijou-o e baixinho disse-lhe:
- Pai, trago ali o meu tesouro para vocês conhecerem, mas antes, passei pela praia, para a menina apanhar um pouco de ar do mar, mas estamos bem as duas, não te preocupes - dizendo isso seguiu em direcção ao carro abraçada a seu pai, onde Sofia dormia em seu berço.
Fez-se um silêncio em torno de Sofia, o pai olhou para Ana e perguntou? - Filha foi isso que teu coração mandou não foi?
- Sim pai, foi a melhor coisa que me apareceu na vida, eu amo esta menina, como se minha fosse - Disse Ana, com as lágrimas nos olhos.
O pai pegou no berço, olhou para Ana e baixinho como se não quisesse que mais ninguém ouvisse, disse-lhe:
- Vamos para dentro filha, tua mãe está desejosa de conhecer sua neta.
Ana seguiu seu pai que comovido, não tirava os olhos da menina. Entraram para a cozinha onde sua mãe estava, e quando ela encontrou os olhos de sua mãe os soluços soltaram de seu peito
- Minha mãe como eu tinha saudades tuas - abraçou-a forte, sem ouvir um som da boca de sua mãe, que comovida olhava sua filha e olhava seu marido, com o berço nas mãos.
A mãe finalmente conseguiu recuperar-se da emoção, dirigiu-se para seu marido, tirou-lhe o berço das mãos, colocou-o em cima da mesa e com carinho pegou em Sofia, não deixando de olhá-la.
- Como é linda minha filha, olha como ela é parecida contigo, suas mãos são pequeninas como as tuas e os dedos compridos como tu tinhas.
- Mãe escuta-me, esta menina não é minha filha, eu já vos contei tudo pelo telefone, ela um dia irá para casa de seu pai, assim que ele recuperar - disse Ana já sem forças para algo mais dizer.
- Eu sei filha - respondeu a mãe - mas até lá será tua filha e será nossa neta, assim decidi eu e teu pai ontem a noite e um dia iremos a braga, conhecer o pai deste anjinho.
Ana emocionada abraçou os dois dizendo:
- São os melhores pais do mundo, que queria eu mais nesta vida?
- Filha, vai tomar um banho, que teu pai toma conta da menina, entretanto tuas irmãs devem estar a chegar para o almoço.
Ana concordou com a cabeça e abraçada a sua mãe, dirigiu-se a seu quarto que estava intacto, tal como ela o tinha deixado da última vez que ali esteve.
Sentou-se na cama, pegou na mão de sua mãe, fê-la sentar-se a seu lado e disse-lhe:
- Mãe, minha vida está tão complicada, precisava tanto de falar contigo, pois eu sei que tenho minhas irmãs, mas nenhuma delas me compreende como tu.
A mãe olhou muito séria para Ana e perguntou-lhe em tom afirmativo
- Amas muito esse homem, não é minha filha? O pai da Sofia?
- Sim mãe e não sei o que hei-de fazer à minha vida. Já não amo Inácio e não sei como dizer-lhe mas.......
- Mas? - Perguntou sua mãe, olhando-a fixamente como se quisesse adivinhar o que vinha da alma de sua filha.
Ana contou toda a história a sua mãe, desde o dia em que José Luís deu entrada no hospital, até à presente data, em que estava ali a seu lado.
- Minha filha o que tiver ser teu. Não te vai fugir, eu e o teu pai estamos contigo, decidas o que decidires da tua vida, agora vá, foge já para a banheira antes que te dê duas palmadas como fazia quando eras pequena - Dizendo isso saiu do quarto sorrindo.
Ana dirigiu-se à casa de banho, tomou seu duche e depois de vestida, seguiu para a sala de jantar onde encontrou Sofia rodeada dos pais e das irmãs, que já tinham chegado.
Parou na porta e olhou em silêncio, ninguém tinha dado por sua presença e ficou a olhar aquele espectáculo emocionante, com lágrimas nos olhos, pensando:
- Que será de mim no dia que me tirarem esta menina? - Como irei viver, se ela já faz parte do meu ser?
A mãe como impelida por um pressentimento, olhou para a porta e viu as lágrimas de sua filha, chegou-se junto ela, pegou num lenço e em silêncio limpou-as dizendo:
- Vem cumprimentar tuas irmãs, com a presença da menina, nem deram pela tua chegada - disse sorrindo.
Sofia tossiu para disfarçar a emoção e toda a família olhou para ela, suas irmãs apertaram-na com força, dizendo simultaneamente:
- Obrigada mana, por nos dares esta sobrinha linda - beijaram a irmã logo de seguida.
As três aproximaram-se de Sofia que olhava para todos com os olhitos bem abertos, sorrindo, parecia que desde a sua vinda ao mundo, tinha sido acompanhada por aquela família.
Ana pegou nela, dizendo para a família
- Vou dar-lhe banho para depois irmos almoçar - Logo se ouviu logo a reclamação das irmãs
- Não Ana, quem vai dar banho à Sofia, somos nós as duas - tiraram a menina dos braços da irmã, acrescentando - aproveita os mimos dos pais que não tens sempre - saíndo da sala sorrindo, felizes com a menina nos braços.
Ana pediu a mãe se podia telefonar, a mãe discreta, como sempre, sorriu, consentindo, sabendo de antemão para quem sua filha ia telefonar.
Ligou para o hospital, pediu para passarem a ligação ao quarto de José Luís, e assim que ouviu a voz dele, emocionou-se, mas reagiu e disse:
- Olá José, é a Ana, é só para lhe dizer que chegamos bem e que sua filha vai sair daqui com os mimos todos - e foi contando toda a viagem, a sua paragem pela praia a sua chegada a casa, a forma como a menina foi recebida e que as irmãs nesse momento, estavam dando banho à menina.
Do outro lado da linha fez-se silêncio, até que se ouviu uma respiração forte e a voz de José dizendo
- Dr.ª não sei como agradecer-lhe todo o carinho que está dando a minha filhota, não há nada neste mundo, que possa pagar isso - Suspirou
- Há sim - pensou Ana - é só me amares como eu te amo - mas em voz alta acrescentou:
- Há sim José, é pôr-se bom psicologicamente para 5ª feira que vem, regressar a sua casa, pois já passaram nove meses desde a sua chegada ao hospital e começarmos com a fisioterapia no ginásio, com Sofia a assistir à recuperação rápida do pai.
José do outro lado, sorriu emocionado, despedindo-se de Ana até terça feira, data em que ela e Sofia regressavam a Braga, sem antes, ela lhe ter perguntado como se sentia, e ele ter-lhe dito que se sentia óptimo, agora mais do que nunca, depois de ter recebido seu telefonema.
O Fim-de-semana foi rápido entre passeios com a família e carinhos recebidos da mesma, chegou terça-feira de manha. Ana levantou-se cedo, foi preparar Sofia e dirigiram-se rumo a Braga.
Durante o caminho Ana ia pensativa, sonhava com uma vida assim calma, como a que tinha vivido desde sexta-feira até ao momento de partir, cheia de amor e carinhos, uma família alegre, onde incluía em seu sonho, José Luís e Sofia.
Olhou pelo retrovisor e viu que Sofia ia acordada em seu berço mexendo as mãozitas e sorrindo sozinha, Ana, abanando a cabeça, sorriu também.
Entre sonhos tristes e alegres foi fazendo a viagem sempre controlando a menina, a ver se estava bem, mas ela já dormia com um rosto calmo, de quem está bem com a vida.
Chegou a casa, estacionou o carro, pegou na menina que dormia e foi deitá-la em sua caminha, de seguida voltou ao carro buscar suas maletas, seguindo depois para o duche que a reconfortou. Deitou-se na cama, pegou no telemóvel para ligar a Inácio.
Esperou uns segundos, o telefone tocou e ninguém do outro lado respondeu. Desligou, fez novamente outra chamada, desta vez para o hospital, pedindo para lhe fazerem ligação para o quarto de José.
- José - Disse sorrindo como se ele a visse
- Chegamos, a sua menina está a dormir, mas às 15 e 30 m vamos aí visitá-lo, ponha uma cara alegre, peça à enfermeira para o preparar, para estar bonito, para receber sua menina.
Dizendo isso e após José ter respondido afirmativamente, desligou o telefone, virou-se para o outro lado e adormeceu.
Do outro lado, José ficou com o telefone nas mãos, sentindo um aperto no peito, uma ansiedade e em sua mente, uma mistura de imagens, Sofia, Ana, tudo se misturava numa só, num só sentimento e derivado ao seu estado de saúde e seus nervos abalados, não se conteve e gritou:
- Não... Não... só amo minha filha, só sinto saudades dela, sai da minha mente por favor, só quero minha menina e minha Raquel, vai-te embora por favor, afasta-te de meus pensamentos e de minha alma.
Seus gritos eram de tal intensidade, que a enfermeira de serviço correu para seu quarto a ver o que se passava, tendo-se deparado com um homem desesperado e com o rosto contraído.
- Sr. José, então que se passa? Que aconteceu para estar nesse estado?
Dizendo isso, aproximou-se de José e pondo a mão em sua cabeça foi-lhe dizendo:
- Calma, o Sr. não se pode enervar, sabe bem disso, sua filha está lá fora esperando a sua saída daqui, tem que começar a reagir, nem que seja por ela.
José foi-se acalmando aos poucos e um pouco depois é que compreendeu o que lhe tinha dado, pedindo desculpas à enfermeira foi dizendo:
- Minha filha vem, daqui a pouco me ver, por favor me ajude a preparar-me para eu poder recebê-la, eu não quero que ela me veja neste estado.
A enfermeira finalmente compreendeu o que se tinha passado ao reparar no telefone caído ao lado da cama, calmamente pegou nele, pô-lo no sítio e sorrindo para José, disse:
- Vamos seu preguiçoso, toca a tirar as mantas de cima dessas pernas, já para a cadeira, para irmos para o duche.
José assim fez e a enfermeira ajudou-o a colocar-se na cadeira de rodas e seguiram caminho à casa de banho.
Após o banho tomado e o pijama vestido, José tomou um calmante que a enfermeira lhe deu e acabou por adormecer, já com o rosto mais suave, sem aquelas rugas de dor e desespero.
parte X
Estava ainda a dormir, quando acordou com umas mãozinhas agarrando seu rosto e como se o olhar que o estava fixando o queimasse, abriu os olhos e deu de caras com Ana olhando para si e ao mesmo tempo atenta à menina, para ver se ela não caía da cama, porque Sofia era um bebé muito irrequieto.
Sem abrir a boca, José sorriu para Ana e agarrando na filha apertou-a muito, como se tivesse medo que alguém a pudesse levar dali, de junto de si.
- Boa tarde José - disse Ana Sorrindo acrescentando - não é preciso agarrar a menina assim, porque ela tirou a tarde para estar junto de si, ninguém a vai tirar.
José sorrindo, afastou um pouco a menina e olhando para Ana disse:
- Boa tarde Dr.ª como foi o fim-de-semana das minhas meninas?
Ana corou, com essa frase, mas fingiu que nada tinha ouvido, dizendo - Uma maravilha José, Sofia conquistou toda a família, veja lá que minhas irmãs já queriam que eu a deixasse lá por uma semana, mas como vê, trouxe-a para junto de si, onde é o seu lugar.
- Dr.ª, mais uma vez, não sei como agradecer-lhe o que está fazendo por mim e por Sofia - desviou a vista para a menina e disse:
- Meu amor, como estás linda, esse tonzinho de pele - agarrando em seu rosto beijou-o com amor e carinho.
Sofia, já conhecia bem seu pai e juntou sua carinha à dele e quando menos esperavam ela balbuciou - papá....
Fez-se um silêncio naquele quarto, um silêncio de emoção, um silêncio próprio de quem não sabe o que dizer, perante aquelas palavras. Não se sabe quanto tempo passou em que José alternava seu olhar para Ana e para sua filha até que conseguiu dizer
- Dr.ª como ela sabe? Sofia ainda não fala, eu ouvi mal? Ela chamou-me papá?
Ana, já recomposta da emoção e da surpresa, apenas replicou - Fala sim, José, nós ouvimo-la falar, ouvimo-la dizer papá, isto é a força do amor e será essa força, será essa palavra, que o vai tirar dessa cama e começar a andar.
-Sofia nunca tinha pronunciado qualquer palavra, explicava-se bem quanto àquilo que queria, mas jamais se ouviu uma palavra de sua boca, mas hoje ela falou sim e disse a primeira palavra que eu queria que ela dissesse, não é em vão que lhe falo no papá dela, a toda a hora e ela hoje provou que me ouviu e que me compreendeu, este tempo todo.
Sofia alheia a tudo isso, não parava de puxar os cabelos de seu pai, tentando empurra-lo para ele se levantar, sem saber que isso era impossível, mas seu sangue puxava para a recuperação dele, seu sangue queria ver seu pai a andar e brincar com ela no chão, como estava habituada com Ana e a ama que tomava conta dela.
Ana compreendeu o que a menina queria, ajudando José, após lhe ter dito o que ela queria, pôs uma manta no chão e colocou-o lá, para ele brincar com a filha, tal como a menina gostava de fazer.
A menina subia para cima dele, descia, puxava-lhe os cabelos, saltava para cima de suas pernas e José maravilhado com aquilo tudo, nem sentiu seu dedo do pé se mexer.
Ana, atenta a qualquer reacção da parte do corpo de José, viu, mas tal, como no momento em que a criança pronunciou a palavra papá, não quis acreditar, mas a verdade estava ali, tal como seu colega neurologista tinha previsto, uma emoção muito forte poderia pô-lo a andar, um dia mais tarde, ou poderia ficar preso a uma cadeira de rodas para sempre.
Mas o amor vence todas as barreiras até a do sistema nervoso central e a prova estava ali, o pé de José tinha mexido.
Saiu de mansinho do quarto, sem que eles se tivessem apercebido da sua ausência, correu a enfermaria, falou com Isabel, a enfermeira de serviço, do que se tinha passado naquele momento, ao que ela contou-lhe, o que se tinha passado de manhã.
Ana não poderia esperar pelo dia seguinte, pegou no telefone e ligou para seu colega neurologista, não poderia dormir sem ter a certeza se o que tinha visto, era real ou não.
Do outro lado da linha uma voz sonolenta se ouviu e Ana com a voz ofegante e um pouco descontrolada disse:
- André, daqui é Ana, a tua colega ortopedista, por favor preciso de ti ainda hoje no hospital - e dizia as palavras à pressa, sem explicar o que se estava a passar.
- Calma Ana, estava dormindo, mas não o suficiente, para perceber que algo se passou, para estares assim descontrolada, isso não é normal em ti. Conta lá o que se passa e porque me queres no hospital ainda hoje.
Ana já um pouco mais calma, contou-lhe a sua viagem à Figueira da Foz e a sua visita agora a José com sua filha e o que se tinha passado. André ao ouvir aquilo desligou o telefone, sem dizer algo a Ana, vestiu-se à pressa e foi directo ao hospital.
Ana ficou com o telefone nas mãos e disse com ar contrariada para Isabel
- André não está bom, Isabel, viste eu a contar-lhe isso e ele desligou-me o telefone na cara.
Isabel já com a força dos anos de serviço e de conhecimento com os médicos que com ela trabalham, sorriu e comentou:
- Está bom sim, Dr.ª Ana, o Dr. André se bem o conheço, daqui a meia hora se tanto, já aqui se encontra entre nós.
Ana sorriu e como da outra vez, pegou na mão da enfermeira e disse
- Que seria de nós neste hospital sem ti Isabel. A mesma sorriu e empurrou-a devagarinho, para a porta que dava caminho ao quarto de José.
Chegou à porta do quarto, pára perplexa, estaria sonhando ou aquelas gargalhadas vinham de dentro do quarto de José? Mais ninguém lá estava, apenas ele e sua filha, pois não era hora de visitas, portanto aquela gargalhada só poderia vir do ser de José.
Empurrou a porta devagarinho e ficou a contemplar aquela imagem com lágrimas nos olhos.
José deitado no chão, com Sofia encavalitada em si, ria de prazer, um riso de alguém que está feliz com a vida e fazia cócegas nos pés de sua filha e ela dava gargalhadas dobradas de alegria.
Nenhum deles deu pela presença de Ana, mas de repente a menina olhou para a porta e a gatinhar, correu para Ana, abraçando-a. José sentiu novamente algo dentro do peito, amor? Felicidade? Alegria?
Não sabia explicar, mas não tirava os olhos das duas, era superior a si, aquela cena da menina abraçando Ana, como se sua mãe tratasse, emocionou-o demais e com a voz embargada pela emoção disse
- Dr.ª sente-se aqui no chão junto a nós - Ana olhou para ele
- Desculpe Dr.ª não sei que se passou por minha cabeça mas não resisti de dizer isso - envergonhado baixou a cabeça.
Ana pôs a menina no chão, sentou-se ao lado de José e sorriu sem emitir algum som, estava demasiado enervada e tinha medo que sua voz a atraísse.
Como estava de calças de ganga, deitou-se no chão e puxou Sofia para junto dos dois que os olhava com carinho, mas com o ar mais natural deste mundo, porque para ela, sua família era aquela e doida de felicidade ora saltou para cima dum, ora para cima doutro, sempre com seu rostinho resplandecente de felicidade.
Foi nesse ar de alegria que André encontrou os três, não querendo acreditar no que estava vendo, mas algo dentro de si se mexeu e nesse momento, reparou que eles se amavam, aqueles dois seres que estavam sentados no chão, certamente sem saberem, sentiam amor um pelo outro e rezou para que suas suspeitas fossem reais, que José um dia ainda viesse a andar.
- Boa tarde jovens, pelo que vejo, hoje não sou preciso aqui - dizendo isso, sorriu -
José olhou para ele e disse - hoje sinto-me bem sim Dr., nem esperava sua visita.
- José, vim cá hoje, porque amanhã não estou por cá e não posso deixar de ver meus doentes. Vamos lá tirar um bocadinho para eu o observar?
- Dr. vê necessidade da minha menina sair com a Dr.ª Ana, para não assistir à consulta?
- Claro que não José, eu até quero que ambas estejam presentes - disse o Dr. André, sorrindo, ao que José meio entristecido disse:
- Eu não queria que minha filha visse mais uma desilusão Dr., porque melhoras, não tenho nenhumas, ainda hoje a enfermeira teve que me dar um calmante porque tive uma crise - dizendo isso abraçou a filha dizendo
- Meu amor, o papá vai lutar para melhorar e poderes ir viver com ele.
O neurologista ajudou-o a deitar-se na cama e começou a observá-lo, sem antes, ter trocado um olhar com sua colega, que o olhou com um nervosismo bem notório.
Chegando às pernas, André sentiu-as com temperatura e seu olhar brilhou, mas não quis se manifestar antes do exame completo.
Pediu a Ana para ir buscar uns aparelhos à sala de enfermagem, o que a deixou em sobressalto, se seu colega queria esses aparelhos é porque sentiu algo, seu coração estava em sobressaltos, mas o bom senso pediu calma, porque naquele momento só lá poderia estar a médica e não a mulher.
Enquanto Ana não chegava, o médico ia falando com José, olhando-o fixamente, alternando seu olhar entre José e Sofia, que alheia a tudo o que se passava à sua volta, puxava os cabelos de seu pai, sempre sorrindo.
André sentiu seu coração apertado ao ver aquele amor entre pai e filha, pensando
- Queira Deus, que eu esteja certo, que este homem um dia venha a andar, que seja apenas uma questão de tempo, de sorte e de boa vontade e porque não, com a força do amor que o rodeia?
Ana chegou com os aparelhos que André lhe tinha pedido e um silêncio fúnebre se fez naquele quarto, até Sofia parecia que adivinhava, cansada de tanto brincar, adormeceu nos braços de seu pai, que se encontrava deitado na cama a ser observado.
- José, não quero dar-lhes esperanças, sabe que a medicina é ingrata e o corpo humano traiçoeiro, mas....... Com esse mas... Dirigiu-se até ao meio do quarto, com as mãos atrás das costas.
-Mas........? Perguntou José e Ana em uníssono.
-Ana, José poderá vir a andar um dia, como poderá vir a ficar numa cadeira de rodas para o resto da vida, mas, seu centro nervoso não foi afectado a nível de pernas e coluna, tudo pode acontecer numa fracção de segundo, basta uma emoção forte e ele começar a andar, como ficar paralítico, tal como já te tinha dito há uns dias atrás, Ana
- André - pronunciou Ana com voz rouca - se José a nível de ortopedia, nada tem a afecta-lo, se a nível de neurologia também não, porque dizes isso?
- Ana, eu fui claro no início, o corpo humano é traiçoeiro, mas, estou convencido que dentro dum ano, ele irá andar por aí com seus próprios pés, mas, terá que fazer muita fisioterapia e ser acompanhado pelo psicólogo e de quinze em quinze dias terá que vir ao hospital para eu o observar também.
José e Ana entreolharam-se, um olhar de medo, de ansiedade e de esperança. Ele nada dizia, seus nervos estavam à beira de explodirem, mas, ao olhar para sua menina ali deitada a seu lado, reagiu e falou roucamente.
- Dr., por este anjinho, eu juro-lhe, que lutarei até ao fim de minhas forças, mas ela irá ter um pai normal, que a acompanhará no seu dia a dia para todo o lado, dando-lhe muito amor e carinho - um brilho de felicidade, misturada com emoção, apareceu em seus olhos.
Ainda ficaram a conversar mais uns dez minutos até que o Dr., André despediu-se dizendo a sorrir:
- José, quinta-feira quero-o fora deste hospital, vai para sua casa e só vem aqui para fazer a visita obrigatória a estes chatos dos médicos - com isso, saíu dando uma piscadela de olhos a Ana.
Novamente o silêncio falou mais alto naquele quarto, ambos não sabiam o que dizer, seus olhos cruzavam-se, suas bocas silenciavam, até que José entregou a menina a Ana dizendo:
- Dr.ª leve a minha princesa para casa, ela precisa de descansar, e eu, preciso de estar só, preciso de reflectir, preciso de pensar, como será minha vida daqui por diante.
- Calma José, que entre os dois, haveremos de arranjar uma solução, agora tome este calmante que o Dr. André deixou e descanse. - Dizendo isso pegou no comprimido e num copo de água estendendo a mão que ao de leve tocou na de José, deixando ambos embaraçados.
José tomou o calmante, deu um beijo à filha, despediu-se de Ana e fechou seus olhos. Ana ainda ficou a olha-lo por segundos, afastando-se de seguida com a menina no colo.
Chegou a casa com o semblante carregado, deitou Sofia em sua cama, pegou numa revista e foi-se deitar no sofá.
Perdeu-se nas horas, nos seus pensamentos, quando deu por si, reparou que a revista estava na mesma página e que já tinha passado a hora do jantar.
Levantou-se e com um sorriso triste balbuciou: - Que faço meu Deus? Amo este homem, já não tenho dúvidas, e Inácio? Como vou dizer-lhe? - Com isso, arrastou seus pés até ao quarto, encontrando Sofia acordada a brincar com seus bonecos.
- Meu anjinho - disse beijando-a com fervor - como fui me esquecer de ti?
Sofia, como compreendendo a sua angústia, abraçou seu pescoço, beijando-a, gesto, esse que fez soltar as lágrimas de Ana, cuja sensibilidade, estava à flor da pele naquele dia.
Deu banho a Sofia, de seguida a papinha e ambas foram para a sala, enquanto a menina brincava, Ana tentava por seus pensamentos em ordem.
- Já sei - deu um salto do sofá - Teresa é viúva, vive numa casa humilde, não tem ninguém, é uma senhora meiga, séria, quem melhor que ela, para tratar de José em sua casa?
Amanhã já vou propor-lhe isso e certamente José irá concordar, porque ele precisa de alguém que tome conta da menina e dele - Com esses pensamentos, pegou em Sofia e foram-se deitar.
parte XI
Sete da manhã, Ana levantou-se, ligou para a colega, para ela substituí-la nesses dois dias, nas consultas externas, e como ela concordou, ligou de imediato para o hospital a avisar da troca, porque tinha assuntos a tratar, mas que ainda nesse dia passava por lá.
Tomou seu banho e pequeno-almoço, enquanto Sofia não acordava. Às 8 horas chegou D. Teresa e estranhou ver Ana de fato de treino, pensou logo, que a menina tinha adoecido.
- Dr.ª que se passa? Que aconteceu à princesa? - Perguntou com o rosto contraído.
- Calma Teresa, a menina está bem, e ainda a dormir, não vou trabalhar hoje e amanhã, mas...
- Mas? - Perguntou Teresa - a Dr.ª está estranha hoje, não se vê essa alegria habitual em seus olhos, que se passa? Conte-me, sabe que sou sua amiga, desabafe comigo - e sorriu.
- Teresa, quero propor-lhe uma coisa, que será bom para si, mas não sei como começar - Sorriu timidamente.
- Força Dr.ª, vindo de si, sei que qualquer proposta é boa - respondeu Teresa.
- Bem, vamos lá começar - Sorrindo - Teresa sabe que o pai da Sofia sai na 5ª feira.
- Sei sim, a Dr.ª já me disse, e? - Perguntou Teresa intrigada.
- Como sabe, ele não anda, mas já não pode ficar mais hospitalizado, uma vez que está neurologicamente recuperado, mas não pode ficar em sua casa sózinho e o que lhe propunha é se a Teresa não se importaria de ir viver para sua casa para o ajudar, claro que será bem renumerada e terá seu cantinho próprio. - Calou-se, respirando fundo, ao mesmo tempo que olhava fixamente o rosto da ama.
- Dr.ª como soube que eu estava com problemas na minha casa? Que aumentaram a renda e não estou conseguindo pagá-la, ia no sábado procurar um quartito para poder lá viver, porque estou muito mal, a senhora é um anjo, não sei como agradecer-lhe, claro que aceito e mais sabendo que é o pai da minha princesa - sorriu de felicidade.
- Teresa, eu não sabia nada desse caso, pensei em si, porque sei o quanto é meiga, competente e como ama a nossa menina, mas.... - Calou-se pensativa.
- Mas? Porquê esse mas? Fale Dr.ª, não me deixe nessa ansiedade - respondeu Teresa já enervada.
- Teresa, vá acordar a menina, prepare-a, que eu vou-me vestir e já resolvemos isso ainda hoje. - Dizendo isso, saíu pela porta fora.
Teresa dirigiu-se ao quarto de Sofia, intrigada, mas ao mesmo tempo descansada, porque sabia que algo vindo de Ana, só poderia ser bom para si.
Às nove e trinta saíram as três de casa, rumo ao hospital, Sofia assim que chegou ao hospital, começou a mexer os bracitos e a sorrir, pronunciando - Papá, Papá.
Teresa parou perplexa ouvindo a menina pronunciar aquelas palavras, e Ana sorrindo contou-lhe, o que se tinha passado na visita que fizeram a José em que ela disse pela 1ª vez essa palavra, aliás a única, vinda de sua boquita.
- Dr.ª, como ela conhece o hospital? Foi assim que aqui chegamos que ela pronunciou essa palavra - perguntou Teresa.
- Há meses que Sofia vem aqui visitar seu pai e sabe que as crianças têm um poder de fixação incrível, é normal essa reacção dela - respondeu Ana.
Sofia ia excitada ao colo da Ama, enquanto elas andavam a caminho do quarto de José.
Chegando ao quarto de José, Ana disse a Teresa para por a menina no chão e que tomasse atenção às reacções da mesma.
Teresa assim fez, ambas iam atrás dela em silêncio, Sofia gatinhando, aproximava-se da cama do pai que dormitava, ou pelo menos de olhos fechados se encontrava.
-Papá. Papá - gritava Sofia puxando as roupas da cama.
parte XII
Minutos depois, José voltou à realidade e sentiu-se mal educado, por estarem ali duas senhoras e não lhes ter dado atenção e sorrindo meio tímido exclamou:
-Desculpem, a minha má educação não vos ter cumprimentado, mas o meu anjinho projecta-me para outro mundo, que acabo por esquecer tudo o que me rodeia
- Não faz mal José, eu e Teresa até adoramos estar em silêncio a observar este espectáculo de amor, e já agora quero apresentar-lhe a ama da Sofia, a senhora que fica com ela nos momentos em que não está connosco.
- Prazer senhora - exclamou José estendendo a mão.
- Prazer Senhor, já o conhecia, de tanto ser falado lá em casa da Dr.ª., mas finalmente conheço em pessoa o pai da minha princesa - respondeu Teresa, sempre com aquele ar característico, com o seu sorriso meigo, sorriso esse, que desde o início conquistou José, pensando ao olhar para ela, que sua menina não poderia estar melhor entregue
-José, sabe que amanhã as cinco da tarde já lhe vão dar alta, já pensou como vai ser sua vida daí em diante? - Perguntou Dr.ª Ana
- Já sim Dr.ª - replicou José com ar meio revoltado, meio entristecido - Como vou me governar sózinho Dr.ª? Assim numa cadeira de rodas, se nem ainda arranjei alguém para cuidar da casa, de mim, e já não digo da Sofia, porque ela está com a Dr.ª, quem vai querer cuidar dum inválido como eu? - Suspirando continuou:
-Porque vou precisar duma pessoa que fique lá a viver, duma pessoa totalmente disponível, porque a Dr.ª não sabe, mas felizmente monetariamente não tenho problemas, mas o dinheiro não é tudo, como sabe. Diga-me Dr.ª quem irá querer tratar deste inválido? - Dizendo isso, deu um grito rouco.
- Eu, Senhor José, está à sua frente a pessoa que com o maior prazer do mundo, vai cuidar de si, como se meu filho fosse - Respondeu Teresa agarrando as mãos de José, acariciando-as com carinho.
- Não pode ser, a senhora tem a sua vida, família, não pode se ocupar de mim. Não vou admitir um sacrifício destes - disse José
- Sr..... - Balbuciou Teresa - infelizmente não tenho ninguém, meu marido morreu há 3 anos, não tenho filhos, não tenho família, neste momento o meu cantinho, onde esqueço que não estou só, é na casa da Dr.ª Ana, quando estou com a minha princesa - dizendo isso começou a chorar.
- Calma Teresa - Disse José emocionado - Terá seu lugar em minha casa, será a mãe que nunca tive e a avó da Sofia que nunca irá conhece-la porque nem eu a conheci. - Sorrindo deixou estar suas mãos agarradas às de Teresa, dando-lhe palmadinhas de carinho.
- Dr.ª, diga-me como um dia eu vou poder pagar tudo o que a senhora fez e tem feito por mim e por Sofia? - Perguntou José, olhando para Ana com amor, com carinhos, olhos esses que Ana bem captou, mas não quis se iludir, mas que Teresa também reparou, sorrindo para si - nesse momento ela tinha acabado de sentir que aqueles dois seres se amavam.
- Paga-me duma maneira José, deixando Teresa levar Sofia a minha casa, quando eu estiver de folga, para passar uns momentos comigo.
-Dr.ª, Sofia fica com a senhora, até eu poder movimentar-me, não posso cuidar dela, como a senhora cuida, durante o dia ficará comigo e com Teresa e à tarde ela irá para sua casa. Ela precisa duma mãe e quem melhor que a Dr.ª para ser sua mãe?
- Mas... desculpe Dr.ª - continuou José - A Senhora tem a sua vida e eu a pensar só na minha e na de Sofia.
- José, acabou de me dar a maior alegria do mundo deixando a menina comigo, serei sim, sua mãe, sua amiga, sua conselheira - está decidido - e sorrindo Ana, acrescentou - Fica com a Teresa e eu com Sofia.
Ainda estiveram a combinar a maneira como iam limpar a casa, José chamou a enfermeira para ir buscar seus pertences que o hospital tinha guardado após o acidente, entregou as chaves a Ana para ela poder ir prepara-la para a sua chegada.
Ana e Teresa despediram-se de José, e seguiram para casa dele, sem antes, terem passado por uma empresa de limpeza para virem tratar da casa.
parte XIII
Seguiram de seguida para casa de José, abriram a porta e ambas ficaram impressionadas com o tamanho e a beleza daquela casa, abriram todas as janelas, para entrar ar, porque ar, era coisa que ela já não tinha há nove meses.
Deram a volta à casa toda e viram que as divisões estavam bem divididas, e tal como ordens de José, Teresa escolheria seu quarto, e modificaria-o a seu gosto, mas gosto, era o que não faltava naquela casa, com a ajuda de Ana, Teresa escolheu seu quarto, tendo o cuidado de ser o mais perto do de José, caso ele necessitasse dela.
Continuaram pela casa, quando viram um quarto fechado, abriram-no e ficaram radiantes, era o quarto de Sofia, nada nele faltava, tudo a combinar e Teresa feliz comentou:
- Dr.ª veja o quarto da minha princesa, que lindo e já viu que está mesmo ao lado do que escolhi? - Observação essa, acompanhada dum sorriso radiante.
- Claro Teresa, os pais tiveram o cuidado de escolhe-lo junto aos deles - sorrindo foi dizendo - A Teresa também não teve o cuidado de escolher um, junto ao de José?
- Tem razão Dr.ª, eu já nem consigo pensar, tal a felicidade que tenho dentro de mim - dizendo isso, num impulso agarrou-se a Ana, beijando-a com as estas palavras
- Obrigada, meu anjo da guarda.
Ana emocionou-se com esse gesto e nessa mulher, que se encontrava à sua frente, viu sua mãe, carinhosa, atenciosa, discreta e nesse momento teve certeza que José iria ter ali, uma mãe, uma amiga e porque não uma confidente?
- Teresa, agora que já abrimos as janelas, eu vou leva-la a casa, para Sofia descansar, ela não pode estar mais tempo aqui a apanhar este pó, depois voltarei, porque os senhores da limpeza vêem daqui a meia hora e eu ficarei aqui com eles.
- Dr.ª porque a senhora não fica no jardim com a Sofia, a apanhar este sol radioso, enquanto eu limpo o quartinho dela, depois deitamo-la, assim já posso ajudá-la no resto das arrumações.
- Não posso aceitar Teresa, a senhora não é minha empregada, mas sim ama da menina, foi para isso que a contratei - replicou Ana.
Teresa sorrindo, ao mesmo tempo que pegava num pano que ali se encontrava, empurrou Ana para o exterior, levando consigo a menina.
Chegou lá fora ao jardim, colocou a menina no relvado, um pouco já maltratado do tempo e da falta de manutenção, limpou os bancos que ali se encontravam dizendo:
- Fique aqui uma horita Dr.ª, veja se consegue adormecer Sofia, que daqui a nada, ela estará a dormir em sua caminha. - Saindo de seguida sempre a sorrir.
Ana nem replicou, sabia que Teresa tinha razão, entre as duas despachavam-se mais depressa da casa de José, pegou na menina e foi dar uma volta pelo jardim, que era enorme, pensando:
- Como Sofia irá se sentir feliz brincando neste jardim.
Sofia queria ir para o chão, e Ana não queria que ela se sujasse, lembrando-se então:
- Já sei, vou buscar o almoço para mim e para a Teresa, passo por casa, trago roupinha para a menina dormir e mais uma muda de roupa para depois da sesta, dou-lhe lá a papinha e entretanto Teresa, já tem o quartinho dela pronto.
Entrou em casa, disse a Teresa o que ia fazer, o que a mesma concordou e saíu com a menina.
À uma da tarde, chegaram a casa de José, encontrando a mesma num reboliço, pois já lá se encontravam os senhores da limpeza, foi procurar Teresa que feliz lhe disse:
- Dr.ª venha ver o quarto da minha princesa - dizendo isso, tirou-lhe a menina do colo, indo à sua frente, orgulhosa e feliz, mostrar o quarto.
Ana entrou e ficou maravilhada, tudo limpinho, a caminha dela com lençóis lindos, e uma colcha maravilhosa. Os bonecos que elas antes não tinha visto, estavam espalhados no quarto, pois Teresa tinha visto-os no armário e colocou-os ali, prontos para sua princesa ter com que brincar.
Colocou a menina na cama, que já vinha preparada para dormir, e tentou adormece-la, mas... Sofia estava demasiado excitada, com aquela confusão toda, que não era habitual na sua vida do dia a dia.
Teresa ajoelhou-se ao lado de sua caminha e cantarolou. Como a menina estava cansada, e com essa música a que estava habituada, logo seus olhitos se foram fechando, até que acabou por adormecer.
Ana tirou o intercomunicador do saco, para poderem ouvir Sofia, caso ela acordasse.
- Dr.ª, não é preciso isso, veja o pormenor destes pais, está aqui um, junto à cama e por toda a casa está espalhado um em cada canto, eles pensaram em tudo, para esta princesa.
Ana sorriu, mas uma tristeza se apoderou dela dizendo:
- Não é justo as partidas que a vida faz às pessoas Teresa.
- Calma Dr.ª, a nossa menina perdeu uma mãe, mas ganhou outra maravilhosa, ela nunca sentirá sua falta, posso lhe garantir isso - Dizendo isso, puxou-a para fora do quarto, exclamando a sorrir:
- O nosso almoço Dr.ª?
Ana voltou a sorrir, passou um braço por cima de Teresa e encaminharam-se para a cozinha, onde antes, tinha colocado o saco da comida.
Almoçaram nas maiores das harmonias, sentindo Ana, que estava com alguém da família. Não a conseguia ver como ama de Sofia, mas como alguém, muito próximo de si.
Durante o almoço, Teresa foi contando sua vida, de como foi feliz com seu marido, do seu trabalho e como perdeu tudo, com a doença do marido, tornando-se na pessoa que hoje era.
Ana compreendeu nesse momento, o porquê de Teresa ser uma pessoa culta, educada e com lágrimas nos olhos disse-lhe:
-Teresa, a partir de hoje, sua vida mudará de novo, será nesta casa uma senhora e tal como José disse, será sua mãe e avó de Sofia e porque não minha 2ª mãe, que tanta falta, sinto dela, por estar tão longe.
- Dr.ª serei sim, tudo isso para os três, porque são a minha única família, mais ninguém tenho neste mundo.
Ana levantou-se, foi à sua mala, tirou de lá um telemóvel comentando - tome para si, não quero ficar na ansiedade de não saber nada da menina, enquanto ela não está comigo.
- Não posso aceitar Dr.ª, não tenho dinheiro para o carregar - disse tristemente Teresa.
Sorrindo Ana replicou:
- Quem lhe pediu dinheiro para o carregar? Aceite e a partir de hoje morreu a Dr.ª, serei apenas "Ana".
Teresa chorou de emoção, convulsivamente, não estava aguentando tanta emoção num só dia, tanto amor, que já não o sentia desde a morte de seu marido.
Ainda estiveram a conversar por mais meia hora, indo de seguida ter com os senhores da limpeza para que no dia seguinte tudo estivesse em ordem para a chegada de José.
Às seis da tarde, estava uma parte da casa limpa, tendo ambas, o cuidado de deixar tudo no seu lugar, tal como Raquel tinha deixado, não queriam que José, entrasse naquela casa e sentisse o vazio dum lugar desconhecido.
Combinaram com os senhores para no dia seguinte as 9 da manhã estarem ali na casa, para acabarem de limpar o resto, que tinha ficado por limpar.
Deixou Teresa em casa dizendo:
- Prepare as suas coisas, que amanhã passo por aqui para vir buscá-la.
Teresa beijou a menina, deu uma palmadinha no ombro de Ana e exclamou:
- Até amanhã meus anjos - saíndo do carro a seguir.
Chegou a casa, foi dar banho a Sofia, deu-lhe de comer, comeu alguma coisa, e foram para a sala até a menina lhe dar o sono.
Às 21 horas Inácio ia a sua casa, para se despedir, porque no dia seguinte seguiria para os E.U. para um congresso de cardiologia.
Nada lhe diria sobre os últimos acontecimentos, pois não queria que ele fosse enervado, A medicina era sua vida e jamais ela queria estragar seu prazer por algo que ele bem poderia saber no seu regresso.
O serão correu bem, Ana esforçou-se para ser atenciosa e meiga, mas só ela sabia como estava custando-lhe, sabendo que o homem que estava junto a si, já nada lhe dizia emocionalmente, mas... tinha tempo de resolver esse problema mais tarde.
parte XIV
Chegou a hora de José sair do Hospital, Ana já lá se encontrava, sem Sofia, porque haveria muita burocracia para resolver antes da sua saída e José, sózinho era incapaz.
Antes de ir a seu quarto, passou pela direcção, mandou preparar todos os pertences de José, que já passavam por lá, para ele poder assinar, seu levantamento.
Dois dias antes, a polícia tinha ido levar o que estava guardado com eles, quando do acidente, e que estavam agora, na guarda do hospital.
Ana encontrava-se nervosa, ao entrar vacilou, respirou fundo e só quando ouviu vozes é que se encheu de coragem e entrou pelo quarto a dentro.
- Boas tardes - disse ela com a maior das calmas, como se nada daquilo a afectasse.
- Boas tardes Ana - respondeu um médico que estava junto a José - Estava aqui a examinar este malandro, mas não sei se o hei-de deixar sair ou não - respondeu de seguida a sorrir.
-Boa tarde Dr.ª, será que é desta que me vou embora de vez? - Perguntou José, com uma voz, que não escondia seu nervosismo.
- É desta sim José, lá em baixo já estão suas coisas preparadas, é só meu colega acabar de examiná-lo e vamos levá-lo a casa, sua menina já o espera com ânsiedade - respondeu Ana sorrindo, um sorriso nervoso, que não passou despercebido ao colega, tal como ao Dr. André, e à enfermeira Isabel, ele já não tinha dúvidas, eles amavam-se, sem saberem.
Feitas todas as diligências junto ao hospital, partiram rumo a casa, José ia em silêncio, seu rosto estava crispado, Ana compreendeu tudo o que lhe ia na alma, e respeitou seu silêncio, olhava-o de soslaio e mantinha-se também em silêncio.
A meio do caminho, José pediu-lhe se ela poderia passar num Multibanco para levantar dinheiro, ela consentiu, estacionou o carro, José deu-lhe o Multibanco e pediu para ela ir levantar.
Ana, saíu do carro, e com os nervos em franja dirigiu-se a caminho do banco. Levantou o dinheiro, entrou no carro e em silêncio entregou-lho.
José sentiu-se mal perante seu comportamento e com voz rouca disse:
- Dr.ª, perdoe-me, não consigo falar, as recordações dolorosas estão a chegar à minha memória, não me leve a mal, com o tempo eu irei dominar todas essas emoções.
- José, por favor, não pense que estou a criticá-lo, qualquer um no seu lugar sentiria o mesmo, só peço-lhe uma coisa, quando chegar junto a Sofia, domine-se, ela é muito sensível e tem lá a Teresa que o vai ajudar muito, com a sua meiguice e com a sua sensibilidade o José irá ver nela uma mãe - Respondeu Ana sorrindo timidamente.
José consentiu com a cabeça, sem omitir qualquer palavra, tudo o que pudesse dizer naquele momento, acabaria por chorar.
Chegaram a casa e quem os esperava no jardim? Teresa e Sofia. Quando o carro entrou, Sofia olhou e reconhecendo o pai, saltou do colo da ama, gritando - Papá, Papá, e gatinhando correu ate ele.
Teresa e Ana ajudaram a colocar a cadeira de rodas fora do carro, sentaram-no lá e a primeira coisa que fizeram foi colocar Sofia a seu colo, que parecia que endoidecia de felicidade, de ver o pai.
José agarrou-se a ela, como a querendo proteger de todo o mundo, e a menina puxava-lhe os cabelos, acto esse, que fez com que o rosto de José se transformasse, de crispado, tornou-se radiante.
Olhou para Teresa, com um olhar meigo, sorrindo disse
- Dê cá uma beijoca a este malcriado Nanã.
Teresa expansiva como era, chegou-se a ele, como se já o conhecesse há anos, abraçou-o, beijando-o, dizendo:
- Benvindo a esta casa meu menino.
Ana sempre em silêncio, tirou a menina do colo do pai e dirigiram-se para dentro de casa. Teresa notou que algo ali entre eles se passava, mas pensou:
- Tenho todo o tempo do mundo para descobrir, mas... se fôr o que eu desconfio, eu me encarregarei de fazer, o que falta fazer - sorriu matreiramente.
Já dentro de casa, em voz alta disse:
- Meninos a caminho da cozinha, tenho ali um lanchezinho para todos.
- Teresa, não me apetece comer - replicou Ana.
Ana não respondeu, puxou-a para dentro da cozinha, indo de seguida buscar José.
Sentaram-se todos à mesa e sem darem por isso, a conversa foi-se generalizando, falou-se da limpeza da casa, de como Sofia se sentia feliz no jardim, estando a mesma sempre ao colo de seu pai, que não o largava por nada deste mundo.
Combinaram tudo o que tinham a combinar, dado José, todos os poderes a Teresa, uma vez que ela irá ser dali em diante a mulher da casa.
Ana concordou plenamente com o que José tinha decidido - e olhando para a mesma, sorriu com carinho, agarrando em suas mãos e em tom de brincadeira disse:
- Teresa tenho a certeza que foi a melhor decisão que José tomou em toda a sua vida. - Desviando o olhar dela, dirigiu-o a José matreiramente, tendo o mesmo, recebido esse com olhar, retribuindo com outro, cheio de carinho.
Ao fim do serão Ana levantou-se do sofá, tendo ajudando Teresa a deitar José.
- Ana - Após o jantar, ela pediu-lhe para deixar de tratá-la por Dr.ª.
- Queria pedir-lhe um favor.
- Peça José, sabe que só não farei se não estiver ao meu alcance.
- Sabe que está a ser muito difícil encontrar-me nesta casa, sem a presença de Raquel, e não imagina o quanto me faria bem sentir que tenho junto a mim a minha princesa, a primeira noite que aqui durmo mas...... - ao dizer o mas, silenciou com lágrimas nos olhos, com as mãos crispadas.
- Calma José - Disse Ana, emocionada com as lágrimas daquele homem, cada dia doía-lhe mais vê-lo chorar, mas, também, cada dia, doía-lhe mais, ouvi-lo citar o nome da esposa, mas, ele tinha razão
- Ela foi sua esposa Ana, não tu, toma juízo nessa cabeça - dizia-lhe a voz de sua consciência. Mas em voz alta disse-lhe:
- Diga o que quer José, se quer que a menina fique cá, eu deixo-a ficar, até já tem o pijaminha vestido e uma muda de roupa para amanhã.
- Ana, como sabe esta casa é grande. Como pude verificar, toda ela está arrumada e limpa, porque não fica connosco esta noite? - Disse José já baixinho, como se tivesse medo de ser ouvido.
- Não posso José, tenho a minha casa e Teresa está cá para o que for preciso.
Teresa assistia em silêncio ao diálogo, saiu devagarinho sem que eles tivessem notado, dirigindo-se ao quarto da menina.
Estava a olhar Sofia a dormir, quando sentiu passos, olhou para trás e viu Ana com lágrimas nos olhos.
-Venha aqui Dr.ª, sente-se - puxando uma cadeira fê-la sentar-se, tendo de seguida puxado outra, sentando-se à sua frente. Agarrou em suas mãos dizendo:
- Dr.ª, como sabe, já tenho 59 anos, e a vida ensinou-me a conhecer as pessoas, dentro do seu silêncio e já há nove meses que estou com a senhora e muita coisa vi, nada falei, nada comentei, mas... hoje não posso calar-me, o carinho que sinto pelos dois, não me deixa calar e peço desculpas desde já Dr.ª., mas vou dizer o que sinto.
- Fale Teresa, o carinho que sente por mim, é recíproco, diga o que lhe vai na alma, que eu escuto.
- Dr.ª - começou Teresa - O relacionamento com seu noivo, há muito se afundou, só não acabou ainda, porque a Ana não quer aceitar que se apaixonou por José, assim como ele por si, mas eu...... sinto isso há muito, o seu sentimento por ele, e hoje não tenho mais dúvidas, José ama-a também, mas não quer aceitar em memória à sua esposa - Calmamente mexia nas mãos de Ana, acarinhando-as.
- Não pode ser Teresa - soluçou Ana - Eu amo Sérgio e José adora sua esposa, não o ouviu há pouco a dizer que sentia sua falta? - Ao fazer essa pergunta sua voz enrouqueceu.
- Dr.ª não se engane mais, o que é evidente e real, vocês amam-se mas a vida não vos deixa admitir isso, faça-me um favor, fique cá esta noite, para ele se sentir melhor, mais seguro, foram nove meses que ele habituou-se a senti-la e vê-la ao acordar.
- Teresa, não tenho cá roupa, também estou preocupada, mas não posso cá dormir - disse Ana já sem forças para ateimar mais.
- Vá. Fazemos assim, vamos pôr a menina na cama do pai e eu vou com a Dr.ª a casa, para buscar sua roupa. - Dizendo isso, empurrou-a devagarinho rumo ao quarto de José.
Enquanto Ana seguia para o quarto de José, Teresa voltou atrás, pegou na menina para leva-la para junto do pai.
Quando chegou perto do quarto de José, viu Ana à porta sem coragem para entrar.
- José - disse Teresa empurrando Ana para dentro do quarto - Fica com a princesa aí na sua cama enquanto vou com a Dr.ª Ana a casa buscar sua roupa para ela dormir aqui connosco?
- Ana, é verdade? - Perguntou José com os olhos brilhantes de felicidade - Fica aqui esta noite?
- Sim José, só esta noite, combinado? Sorriu para ele com ternura.
- Sim Ana, prometo que não lhe vou pedir mais para cá ficar, só esta noite, prometo que a partir de amanhã serei forte - Sorria feliz agarrando sua filha, beijando-a docemente.
- José - Disse Teresa Sorrindo - Se acorda a menina a Dr.ª não ficará cá esta noite.
- Pronto Teresa, deite-a aqui ao meu lado, que eu porto-me bem, fico aqui à vossa espera, só olhando para ela. - Disse José com ar de felicidade que mesmo que quisesse esconder, não conseguia.
Saíram de casa depois de aconchegar os dois, pai e filha.
Durante o caminho conversaram muito, tendo Ana contado a Teresa, o que sentia, seus medos, suas angústias, a falta de interesse por Sérgio, acabando por confessar a Teresa, o seu amor por José e o medo que sentia por esse sentimento que para ela, não tinha futuro.
Teresa aconselhou-a para ter calma, que o futuro e o destino se encarregariam de resolver tudo,
parte XV
Chegou a primavera, com ela, o sol radioso dum dia, que convidava a uma estadia no quintal, José foi até lá, com sua filhota, levados por Teresa, que seguiu para o mercado afim de fazer umas compritas para casa.
Sofia brincava na relva, com sua bola preferida, enquanto José lia um livro, desviando por vezes a vista do mesmo, para olhar sua menina, voltando de novo à leitura.
Num dos momentos em que se encontrava concentrado na leitura, ouviu um choro, levantou a vista, percebendo-se de imediato que vinha de Sofia.
Olhou e não a viu, seu coração disparou, onde estaria sua filha? Porque ele tinha a certeza que era dela que vinha aquele som angustiante. Estava desesperado, quando viu as pernas da menina atrás dum pinheiro que tinham no jardim.
Gritou por seu nome, e a menina não respondeu, nem se mexia, apenas via suas pernitas e ouvia seu choro cada vez mais alto, choro de quem se encontrava magoado. José desesperado começou a gritar cada vez mais, mas de nada lhe valia, ninguém se encontrava em casa e nos arredores não se via ninguém.
Num impulso, sem saber o que estava a fazer, José levantou-se de sua cadeira de rodas, deu dois paços em frente, só com um pensamento em sua mente.
- Minha filha está mal, ela precisa de mim, tenho que chegar até ela - mas suas pernas não cederam ao segundo passo e caiu, desesperado, olhou para si e viu-se no chão, mas continuando sem reparar que tinha andado.
O choro da menina cada vez era mais forte e a dor de se sentir inútil, sem poder salvar sua filha começou aos gritos:
- Senhor, que mal te fiz eu? Diz-me, porque me salvaste? Porque me deste a minha filha, se nem pai poderei ser? Não vez que ela esta mal? Dá-me forças Meu Deus, para chegar junto a ela.
Dizendo estas palavras aos gritos, começou a rastejar para chegar junto a Sofia, suas forças estavam faltando, mas uma força maior que as mesmas, fazia com que ele continuasse a rastejar, até que viu o rosto da menina, aí continuou sem se aperceber que estava fazendo, levantou-se, e chegou junto à filha, que estava magoada no rosto e numa pernita.
A filha vendo-o, abraçou-se a ele repetindo sem parar, Papá, Papá, e chorava. José já sem forças deixou-se cair no chão com sua filha no colo, protegendo o corpo da menina com o seu, mas com a certeza que ela estava salva.
Após verificar que os ferimentos não eram graves, retirou sua camisa e secou o sangue que corria no rosto e na pernita de sua filha, beijando-a ao mesmo tempo, que dizia com uma voz suave:
- Meu amor, o papá está aqui, nada de mal te acontecerá - com suas palavras, o choro da menina ia-se acalmando, agarrando-se cada vez mais a seu pai.
Assim, ficou uns minutos, saboreando aqueles momentos com sua filha, agarrado a ela, com medo que o mundo a retirasse de si, e nesse momento lembrou-se de Ana, sentindo um estremecer no corpo e com esse tremor, sua mente voltou à vida que o rodeava.
Olhou à volta, vendo apenas o jardim, e ele sentado no chão com sua filha ao colo, desesperado, procurou sua cadeira de rodas e não a viu, foi então que tomou consciência do que se tinha passado minutos atrás.
- Meu Deus, eu andei, diz-me que é verdade, que não estou a sonhar - tocando em sua filha para ter a certeza que aquilo não era um sonho, e... quando viu que a realidade estava diante de si, começou a chorar compulsivamente.
- Eu consigo andar meu amor, eu consigo andar, o papá não está inválido - chorando cada vez mais de emoção.
Sofia olhava para ele, sem nada perceber, mas para ela apenas contava uma coisa, e essa ela tinha a certeza, ela tinha ali seu pai encostado a seu rosto.
Quando se acalmou, colocou a menina no chão, que de imediato começou a gatinhar de encontro à sua bola, pois já se sentia protegida, e na sua inocência dos dez meses de idade, deixou ali seu pai, sem saber o que fazer, sem forças para tentar levantar-se de novo, com medo de fracassar.
Ganhou forças e rastejando de novo começou sua caminhada até à sua cadeira de rodas. Sofia, vendo-o assim, pensando que o pai estava a brincar, aproximou-se dele gatinhando, e acompanhou seu pai parando de vez em quando sempre a sorrir, deitando-o ao chão como costumava fazer no hospital, puxando seus cabelos e subindo para suas pernas.
José, com essa brincadeira esqueceu-se de sua cadeira de rodas, naquele momento só via sua filha sorrindo, com aquela alegria característica dela.
Já cansado, deixou-se estar deitado na relva, enquanto Sofia, voltava de novo à sua brincadeira com a bola.
Seus pensamentos voaram, até darem luz a um rosto iluminado por um sorriso, que ele tantas vezes se recordava, o rosto de sua Raquel, e sentiu um aperto no peito, olhou para sua filha, viu esse sorriso no rosto de Sofia, mas.... Assustou-se, o rosto de Raquel deu lugar a outro rosto, também luminoso, com um sorriso meigo, simples, o rosto de Ana, sentindo de novo seu corpo estremecer, e nesse momento teve a certeza duma coisa - Ele amava Ana, já não tinha dúvidas.
- José tem juízo, não podes amar essa mulher, tu és um inválido e ela, uma mulher viva, linda, cheia de energias - Falava a voz de sua razão.
- Amo essa mulher, e mais uma vez a vida me atraiçoa, já me roubou um amor e agora de novo rouba-me outro, porquê? Porquê Raquel? Porque me abandonaste, quando mais necessitava de ti e agora magoo-te, amando outra mulher? - Um grito rouco saíu de sua garganta.
Começou a pensar em Ana, chegando à conclusão que dela nada sabia, apenas que era sua médica, não sabia se era ou não casada, ela não tinha aliança, mas... tanta gente que não a usa, pensando nisso sentiu raiva dentro de si, pensando que outro homem poderia estar na vida dela.
Com essa raiva, de novo rastejou até sua cadeira de rodas, fazendo um esforço para se sentar nela, conseguindo já exausto, mas com um pensamento fixo em sua mente.
- Ninguém, mas ninguém pode vir a saber que eu andei, isso foi a força do amor que tenho a minha filha, que me fez andar, mas jamais voltará acontecer.
parte XVI
Após três semanas, entre o descanso e as sessões de fisioterapia, José resolveu que tinha que recomeçar sua vida laboral, mas... ficou magoado com o sócio, quando Ana contou-lhe o que tinha acontecido, que ela tinha ido avisá-lo e ele prontificou-se em fazer o funeral a Raquel e jamais apareceu lá, nem para o visitar. Com esse pensamento, resolveu tomar uma resolução:
- Vou chamar meu advogado, dissolvo a sociedade, e passo a trabalhar cá em casa, até um dia conseguir me deslocar sozinho para poder abrir um escritório.
Chamou Teresa que de imediato apareceu junto a ele.
- Diga menino, que deseja - perguntou a mesma.
- Teresa sabe que confio em si como se fosse minha mãe, estas três semanas, foram suficientes para ter a certeza que, tanto eu, como Sofia, não podemos estar em melhores mãos, então resolvi tomar várias resoluções.
1 - Vou começar a trabalhar aqui em casa e quero que a Teresa, nos 1ºs quartos da casa reserve-me dois e arranje-os para fazer dali meu escritório.
2 - Ana disse-me que a Teresa conduzia, eu não sabia, senão nunca a tinha deixado ir às compras de autocarro, então... respirou fundo, continuando - o carro de Raquel ficará nas sus mãos, porque vou precisar de si para me levar a alguns sítios e não posso permitir que Ana venha todos os dias buscar e levar a menina.
- Menino - Replicou Teresa - não posso aceitar, o carro de sua esposa é muito bom e eu sou uma simples empregada.
- Teresa, que seja a última vez que eu oiço dizer isso diante de mim, a Teresa é minha mãe e avó de Sofia, foi assim que decidimos, e a prova é que a menina já a chama de avó - sorrindo continuou - mas... não sei quem lhe ensinou isso - um sorriso maroto surgiu em seu rosto, de belos traços, um sorriso meigo de quem neste momento está bem com a vida.
- Menino, eu bem o ouvi ensinar Sofia essa palavra maravilhosa, mas nunca disse nada, porque cada vez que ouvia, a emoção enchia meus olhos de lágrimas e minha voz cortada pela mesma. - Respondeu Teresa, novamente com lágrimas nos olhos.
José também emocionado e fingindo-se zangado reclamou: - Não me interrompa mais Teresa, por favor - ao dizer isso pegou em sua mão, fê-la sentar-se diante de si e começou:
- Como sabe, meu sócio portou-se mal comigo após o acidente, e resolvi dissolver a sociedade e trabalhar sózinho, mas para isso preciso de si para me ajudar.
- Vou chamar cá o meu advogado para me tratar de tudo e como lhe pedi há pouco, a Teresa irá me arranjar o escritório, tirará tudo donde tenho o meu antigo escritório e passará para lá, quero ter espaço para trabalhar e uma salinha para meus clientes, e sei que isso nas suas mãos ficará um brilho.
- José, que bom ouvir novamente em sua boca, palavras de esperança, mas diga-me, algo me intriga, porquê isso agora? Porquê José, fica de há uns dias para cá fechado em seu quarto, sabendo que não o pode fazer, porque pode acontecer-lhe algo?
- Teresa, já não posso guardar mais este segredo dentro de mim, só tenho a Teresa e a Sofia, preciso de desabafar com alguém.
José com voz nervosa, contou-lhe o que aconteceu no dia que ficou sózinho no jardim com Sofia e como esse dia o tinha marcado, que tinha desistido de voltar a lutar, mas o amor que tem à sua menina, o fez tentar de novo, e é isso que tem vindo a fazer todos os dias em seu quarto, mas o medo de fracassar, não o deixava contar a ninguém.
- Já sabe tudo Teresa, porque me fecho em meu quarto todos os dias.
- Menino, Menino, - dizia Teresa a chorar - mas isso é um milagre, deixe-me ajudá-lo a conquistar suas pernas, deixe-me ajudá-lo a ser o homem que era antes do acidente.
- Está bem Teresa mas....
- Mas? - Perguntou Teresa - não quer que Ana saiba, não é?
- Como adivinhou? - Perguntou ele incrédulo.
- José estes olhos velhotes e este coração já velho também, vêem e sentem mais, do que o menino pensa. - Sem que lhe desse tempo a responder, levantou-se da cadeira - dizendo:
- Já venho, espere cinco minutos - saíu da sala a correr, como se alguém a perseguisse.
Ainda não tinha passado os cinco minutos, quando entrou Teresa de novo na sala, com um cajado na mão.
- Para que é isso Teresa? - Perguntou José a sorrir.
- Pegue nesse cajado e vamos começar a treinar agora, aproveitamos que Sofia está a dormir e Ana a trabalhar - Esticou suas mãos, uma para entregar a José o cajado, a outra para o ajudar a levantar-se.
José nada disse e em silêncio ia fazendo o que Teresa lhe dizia.
Quando deram pelo tempo, já tinha passado uma hora, entre passos tremidos e momentos de descanso.
- José, por hoje chega, não vai tentar mais em seu quarto sozinho, todos os dias vamos treinar juntos e um dia fazemos a surpresa a Ana. - Falou Teresa com voz autoritária, que fez com que José consentisse, dizendo:
- Certo meu capitão, suas palavras são ordens. Sorrindo, ambos foram para a cozinha para lancharem.
Após o lanche, José telefonou a seu advogado, que de imediato combinou passar por sua casa por volta das dezoito horas.
Esteve com seu advogado três horas, ficando tudo combinado para que o mesmo tratasse de seguida da dissolução da sociedade.
Às oito e trinta, Ana chegava a casa de José, na hora que o advogado estava de saída. José apresentou-a e conversa puxa conversa, Teresa sugeriu que jantassem todos juntos, o que nenhum deles se fez rogado.
Pois tanto Ana como José, não resistiam aos mimos culinários que saíam das mãos da ama, dotes esses, que foram confirmados pelo advogado, após terem terminado o jantar.
Às vinte e três horas, Ana e Dr. Simão despediram-se, ficando ela, muito feliz com a notícia que eles lhe tinham acabado de dar, sobre o trabalho de José.
parte XVII
Sexta-feira, tanto Inácio como Ana estavam de folga, o dia estava lindo e Inácio saíu de casa, pensativo, algo dentro dele não estava bem, sentia-se inquieto e cada passo que dava em sua mente vinha a imagem de Ana, e cada vez se fazia mais forte essa sensação de perda, mas não se deu por vencido, sabia de antemão que a amava e não queria aceitar que algum dia a pudesse perder, mas também sabia que nos últimos tempos sentia-a diferente e após sua viagem teve a certeza que algo se passava com Ana, porque a via distante, ausente de si, aquela mulher carinhosa, tinha dado lugar a outra, fria, e pensou:
- Já sei, aproveito hoje, a nossa folga, vou buscá-la a casa e vou pedi-la em casamento, pode ser esse o motivo da sua frieza, os anos seguidos que estamos noivos e não me tenho decido casar.
Se bem o pensou, melhor o fez, a passos largos caminhou rumo ao carro, para se dirigir a casa de Ana.
Bateu à porta, Ana foi abrir e estranhou ver seu noivo àquela hora, não esperava, e assustada perguntou:
- Que fazes aqui a esta hora Inácio? Aconteceu algo?
- Sim Ana, veste-te e vamos sair, tenho uma surpresa para ti
-Surpresa? O quê Inácio, que se passa? Diz-me por favor, não me deixes nessa ânsia.
Inácio empurrou-a para dentro de casa meigamente dizendo
- Vá veste-te e logo verás.
Ana, sem mais objecções, seguiu direita a seu quarto e foi-se preparar, mas sempre com a interrogação em sua mente - Que será que ele está a pensar fazer? Mas como já o conhecia, sabia que não valeria a pena insistir para ele lhe contar, porque dali não saberia mais nada.
Em quinze minutos vestiu-se e saíu com Inácio. Iam em silêncio. A dada altura Inácio parou, mesmo no centro da cidade, fê-la sair do carro, parando a seguir diante duma oriversaria.
- Espera Inácio, onde vais entrar?
- Vou comprar o teu anel de noivado, já vai sendo horas, eu sei que demorei bastante mas. ...Foi algo que nunca me esqueci.
- Espera Inácio, vamos falar primeiro, preciso de falar contigo, mas não aqui, vamos até a um jardim.
- Tudo bem Ana, falaremos, não sei que terás para dizer, mas se é assim que queres...
Foram andando e ao avistar o jardim Santa Bárbara, Ana reparou ao longe que no mesmo se encontrava José, Sofia e Teresa e seu corpo tremeu, pegou no braço de Inácio e puxou-o para outro canto do mesmo, mas... não sabia ela que José a viu, agarrada ao braço de Inácio, ficando lívido, porque jamais esperava que a essa hora pudesse encontrara mulher que amava com outro homem.
- Teresa, vamos embora para casa - Disse José com voz rouca.
- Está tão pálido menino, sente-se mal? - Ao dizer essas palavras virou-se e avistou ao longe Ana e Inácio e em silêncio empurrou a cadeira de José, que já tinha a menina ao colo.
- Não Teresa, sinto-me cansado apenas e Sofia também tem que ir comer - respondeu ele secamente.
Teresa em silêncio abandonou o local dirigindo-se para o carro, não ligou à secura de José, porque sabia bem o que ele estava sentindo, E se tinha dúvidas que ele amava Ana, agora todas elas se dissiparam
- Coitado como deve estar a sofrer, não é justo ele saber dessa maneira tão cruel, mas... a vida é mesmo assim, mais dia, menos dia ele tinha que saber que Ana estava noiva.
Do outro lado do jardim Ana e Inácio estavam sentados num banco, ambos em silêncio, cada um concentrado em seus pensamentos, ela tinha em mente a imagem de Inácio ali no jardim e pensava que seria essa imagem a dar-lhe forças para dizer a Inácio que não poderia casar com ele.
Inácio sentia que algo de menos bom ia ouvir de Ana, porque conhecia bem sua expressão de olhar quando algo sensível, ela tinha para lhe dizer.
- Inácio, temos que falar - Disse Ana com um ar sério.
- Claro, Ana, para isso estamos aqui sentados, esperando que comeces por dizer o porquê não teres querido que eu comprasse o anel, antes desta conversa.
- Que se passa contigo? Estás diferente, estás comigo em corpo, mas sinto que tua alma está longe - Perguntou Inácio.
- Inácio - Um longo silêncio após pronunciar seu nome.
- Fala de vez Ana - Gritou Inácio já desesperado - Diz de vez o que tens para dizer, não me faças sofrer mais com esse silêncio.
- Inácio, não posso casar contigo, deixei de te amar, não posso, meu deus, não tenho o direito de adiar mais isso - dizendo essas palavras, soluçou.
- Ana, porquê? Porquê agora, que ia te pedir em casamento? Que aconteceu?
- Inácio, pedir em casamento? Há seis anos que namoramos, há dois que me pediste em casamento, e que aconteceu? Nada, apenas a tua indiferença me deste.
- Não digas isso Ana, eu amo-te - gritou Inácio.
- Não duvido que me ames, à tua maneira, mas não como eu gostava. Deste-me ouro, eu queria uma flor, deste-me teu corpo, eu queria teu carinho, dedicaste tua vida estes anos à medicina, e esqueceste-te que eu existia. Nas horas más estive sózinha, sem teu apoio, sem teu carinho, depois vinhas com bens materiais
- Inácio - Gritou Ana.
- Não vez que nada disso me importa? Não vês que apenas queria tua atenção, teu carinho, tuas palavras meigas?
- Que me deste? Tudo menos isso, a única coisa que minha alma de mulher ânsiava, hoje.... Encontrei tudo isso noutra pessoa, amo outro homem Inácio, mas... sei que nada irei ter dele, mas seu carinho, sua atenção terei, por favor compreende, não posso estar mais contigo, mesmo que fique só, meu coração já não bate por ti, meu corpo, já não anseia o teu, Compreende isso - Desesperada começou a chorar.
- Ana, eu pressentia isso, eu sentia-te distante, mas.... Nunca pensei que te tivesse feito tanto mal, meu amor.
- Não me fizeste mal Inácio, apenas foste egoísta, pensaste só em ti e meu amor foi desaparecendo aos poucos, quando dei por mim, já não te amava.
Falaram ainda mais uma hora, mas Ana estava decidida em deixar Inácio, tendo ele lhe perguntado quem era o homem que ela amava, ao que ela respondeu, que pouco importavam um nome, se esse amor não era correspondido.
parte XVIII
Um sorriso nessa boca, uma meiguice nesse olhar e fora desta casa, teus amigos esperam-te... falou sua consciência.
Ana, ao sentir suas mãos presas entre as do homem que amava, deixou de ver o que se passava á sua volta, tremia, nem ouvindo Sofia, que já colocada no chão, agarrava sua saia, gritando: mamã...mamã, pedindo de novo seu colo.
José, atónito, ouviu essa palavra e não queria acreditar no que estava ouvindo....Gaguejando, olhou Ana dizendo: - DRª, oiça o que minha menina a chamou, e nesse momento Sofia gritou de novo: - Mamã....mamã, sempre puxando sua saia.
Lá longe ouviu-se uma voz dizendo - Dr.ª, fui eu e José que ensinamos essa palavra à menina, ambos, queríamos que Sofia sentisse essa palavra, e foi seu coração que a ditou.
Ana olhava para ambos em silêncio, e foi com o mesmo silêncio, que abraçou Sofia, junto a seu peito. Um aperto forte, mas suave ao mesmo tempo, como se tivesse medo que alguém a tirasse de si.
Sofia com seus bracitos, abraçou Ana pelo pescoço, beijando-a no rosto, sempre sorridente, olhando para seu pai, e para Teresa, como se dissesse:- Vejam minha mãe...
Ana, comovida, não conseguia articular palavra, apenas passou sua mão pela cintura de Teresa, num gesto de carinho, de agradecimento.
O almoço correu bem, Sofia palrava, José e Ana, sorriam, um sorriso tímido acompanhado de olhares furtivos, que Teresa captava.
Sentia-se um certo nervosismo entre eles, Ana, pensando amar esse homem que estava à sua frente e não ser correspondida e José em simultâneo, pensava no homem que tinha visto ontem com Ana, sentindo uma dor, acompanhada de ciúmes.
Acabado o Almoço, José pegou na filha, levou-a para a salinha de estar. Ana olhando para Teresa, num olhar de cumplicidade, disse que ficava a ajudá-la a arrumar a cozinha.
Teresa sorrindo, consentiu, sentindo que Ana tinha algo para desabafar, o que tal aconteceu, após a saída de José.
Minutos silenciosos, em que o nervosismo de Ana era bem visível. Teresa fez Ana sentar-se num banco, dando-lhe forças para que ela desabafasse tudo que martirizava seu coração belo e de menina ainda.
Enquanto Teresa acariciava as mãos de Ana com ternura, a mesma, foi contando seu passeio ao parque com Inácio e como o mesmo acabou...no terminar duma relação que já nada tinha, para ser sustentada.
Teresa não disse, que José também a amava, que a tinha visto com Inácio e estava a sofrer, eles tinham que descobrir sozinhos, esse amor, que sentia um pelo outro.
Mudou de conversa, levantando-se, continuou a arrumar a cozinha, sempre com este pensamento - Tenho que fazer algo por estes dois. Ai tenho e com esse pensamento disse para Ana ir ver como estava a menina.
Ana estranhou esse procedimento de Teresa, mas...sabia que essa mulher bondosa, que um dia contratou para cuidar de Sofia, era inteligente e foi com base nesse pensamento, que saiu da cozinha sem lhe perguntar algo mais.
Estiveram os três na sala, Ana, Sofia e José, eles conversavam, enquanto Sofia brincava com um peluche no chão, acabando por adormecer.
Teresa foi deitar a menina, ficando os dois sozinhos na sala, em silêncio, como se faltasse algo, como se a ausência da menina os impedisse de falar, com anteriormente estavam fazendo.
Passou-se a tarde, entre poucas palavras e um olhar pela TV, até que a menina acordou e foram todos passear.
PARTE XIX
Um passeio muito conturbado, um silêncio desgastante, enquanto Sofia palrava e Teresa sorria, Ana e José, não articulavam qualquer palavra, cada um concentrado em seus pensamentos, esses, de dor, de dúvidas.
Ana, não sabia o motivo porque José, antes, tão atencioso, tão meigo, agora portava-se assim, dessa forma, tão dura, tão seca.
Chegaram ao parque, onde Sofia, costumava brincar, Teresa, afastou-se com a menina, para ver se ambos conseguiam pôr fim a esse silêncio tão dorido.
José mexia em suas mãos, nervoso, queria perguntar-lhe sobre o homem, que estava com ela essa manhã, mas não tinha coragem. Tinha medo do que ia ouvir, Ana, encheu-se de coragem e perguntou:- José, que se passa consigo? Porque está assim nervoso, sente alguma dor? - Não Ana- respondeu José - estou perfeitamente bem - e sorriu, um sorriso forçado, que não deixou a Ana, manobra para mais conversas.
Hora e meia se passou, em que as palavras eram parcas, apenas resposta secas e monossilábicas.
Teresa ir para falar, mas optou por calar-se, sabia que Ana, não estava bem e fazer o jantar era uma fuga a José.
José sorriu, olhando Ana, um olhar terno e ao mesmo tempo duro, que emocionou--a, mas também a deixou inquieta.
Chegaram a casa, tendo no caminho um silêncio apenas cortado pelo palrear de Sofia, que tudo lhe era indiferente, a não ser, a companhia das pessoas, que ela tão pequenina, mas já os amava com intensidade
Ana dirigiu-se à cozinha e Teresa foi dar banho à menina, enquanto José, no mesmo silêncio, encaminhou-se para seu quarto.
Passava uma hora, quando Ana chamou-os para jantarem, mas para seu espanto, José não respondeu, preocupada, a correr foi até seu quarto, quando deparou com o mesmo, a chorar como uma criança.
José, por favor, que se passa? Que tem? Diga-me, não me deixe nesta angústia- Disse Ana, com o semblante carregado de preocupação.
-Porquê Ana, porquê? Porque não me disse que havia um homem na sua vida?
Olhando-o incrédula, Percebeu que afinal, ele tinha-a visto com Inácio, mas se ele amava a esposa, que importava se ela tinha outro homem ou não? Não respondeu, continuou a olhá-lo em silêncio, apertando com mais força suas mãos, como a pedir ajuda, para ter coragem de confessar, que nessa hora, já não havia ninguém na sua vida apenas esse homem que estava à sua frente, que ela tanto amava.
Levantou-se, pegando em sua mão disse - José, venha jantar, ao serão falo consigo, agora Teresa e a menina esperam-nos. Dizendo isso, puxou-o para fora do quarto, tirando de seu bolso um lenço, dizendo - limpe essas lágrimas, não quer que Teresa e Sofia, o vejam a chorar.
O jantar apesar de tudo, foi ameno, olhos carregados, com uma mistura de meiguice, de amor, de dor, tudo isso sentia Teresa, ao olhar aqueles dois, que se amavam, e nenhum tinha coragem de confessar.
Ana vá para a sala com o José e a menina, que eu trato da cozinha - disse Teresa sorrindo, olhando-os de frente, como quisesse transmitir alguma mensagem.
Sim, José... vamos para a sala, Sofia brinca um pouquito, enquanto conversamos - respondeu Ana, puxando mais uma vez pela mão de José, que levava sua filha ao colo, na sua cadeira de rodas.
Sentaram-se, no sofá, sem antes Ana, colocar Sofia nos chão para a menina brincar, até Teresa ir deitá-la.
José - Disse Ana com sua voz cortada pela emoção - Vou contar-lhe minha vida, porque só conhece a médica.
Começou por contar sua vida na Figueira da Foz, como foi feliz na sua adolescência, o tempo em que em Coimbra tirou seu curso e mais tarde para se efectivar, foi para Braga.
José ouvia-a em silêncio, ele queria saber tudo sobre Ana, mas neste momento só lhe interessava uma coisa...Quem era o homem que no parque estava de braço dado com ela. Mas não perguntou absolutamente nada, sabia que Ana chegaria lá.
José- continuou Ana - Há 6 anos conhecia um médico no hospital, um médico, que José conhece bem, o cardiologista. Começamos a namorar e pouco tempo depois, ele pediu-me em casamento.... Silêncio de parte a parte após essa confissão- Ana continuou, já sem forças para dizer o que tinha para dizer, mas ele merecia saber toda a verdade, uma vez que ela sabia de sua vida toda.
- Fiquei muito feliz porque amava demasiado Inácio, mas..... O tempo foi passando e ele nada de falar em casamento, dávamo-nos bem, mas ele só vivia para a medicina, carinhos, pouco os tinha, no entanto, sabia que ele me amava tanto como eu a ele. - Silenciou de novo, suspirando. José mais uma vez não a interrompeu, seu coração estava amargurado demais, depois de ouvir aquela confissão de amor, que Ana nutria por seu noivo.
-Passaram-se seis anos- continuou Ana- até que um dia conheci alguém, que fez meu coração estremecer, as idas de Inácio lá a casa, estavam a tornar-se insuportáveis, eu, pouco falava e ele o pouco que falava também, era a discutir...parou de novo, suspirando mais uma vez.
Continuou, levantando-se e de costas continuou a andar muito devagar - Esse homem por quem meu coração estremeceu, não era livre, ou melhor, seu coração tinha dona, e sentia-me muito mal, cada vez que o ouvia falar na sua amada.
- Sabia que esse homem jamais seria para mim, mas, tinha chegado a altura de acabar com essa farsa, Inácio telefonou-me a convidar para sair e senti que tinha chegado a hora de falar com ele, de ser sincera.
Estava de costas para José, para que ele não visse suas lágrimas caírem por seu rosto, mas o mesmo, sentiu que sua voz estava cortada pelas lágrimas, mas mais uma vez calou-se...queria saber toda a verdade, antes de lhe confessar seu amor.
- Nesse mesmo dia, em que saímos, Inácio queria comprar-me o anel de noivado e marcar a data de casamento, mas... não deixei, falei, e disse-lhe que não poderia casar com ele, porque amava outro homem, mas também lhe disse que esse amor não era correspondido.
Dizendo as últimas palavras, começou a soluçar, sempre de costas para José.
Sem que ela se apercebesse, ele levantou-se, sem fazer barulho, aproximou-se de Ana, e suavemente abraçou-a por trás.
Ana assustada com aquele abraço, nem lhe passou pela cabeça que fosse José, pois ele não andava.
Virou-se rapidamente e à sua frente estava José levantado e sorrindo para ela.
José - gritou Ana- está de pé, andou, como é possível?
José sorrindo, não respondeu a essa pergunta, abraçou-a de novo e muito suavemente murmurou: - Ana... esse homem, não tem o coração livre, não, mas não é pela pessoa que a Ana pensa, mas sim por uma mulher maravilhosa, que com sua meiguice, sua atenção, conquistou este coração...... Amo-te Ana - Disse José tratando-a por tu.
Ana olhava-o atónita, não queria crer naquelas palavras, mas, a verdade estava diante de seus olhos, José abraçava-a com carinho, secando suas lágrimas com a palma da mão.
Pegou nela pela mão e obrigou-a a sentar-se, onde lhe contou, como começou a andar, e os treinos que fazia todos os dias com Teresa.
- Com Teresa - perguntou Ana- Mas ela nunca me contou, ele sorrindo disse - proibi-a de contar, pois queria fazer-te surpresa.
Ana ainda surpresa por aquela revelação, nem se apercebeu, que José beijava seu rosto, acariciava-lhe as mãos, e por fim, agarrou em seu rosto, beijou sua boca suavemente, dizendo... Como te amo, minha estrela, como conseguiste conquistar este coração que se estava tornando pedra...
Pegou na menina, caminhando para o quarto da mesma, quando sentiu um abraço à volta de seu pescoço.
- Ande cá sua marota - disse Ana, beijando-lhe o rosto - sabe que José já anda?
Teresa virou-se e sorriu para José, um sorriso de cumplicidade, de amor e carinho maternal, respondendo - Sim minha filha, eu já sabia, e esperava ansiosa que chegasse o dia da Ana também saber, sinal que vosso amor, foi revelado.
Com a Sofia ao colo, e abraçada a Ana, aproximou-se de José, levantando-o - Vem cá meu filho, dá um beijo aqui à velhota, que está morrendo de felicidade- dizendo isso, colocou a menina no chão e abraçou-se aos dois, chorando, como se mãe deles fosse.
Um passeio muito conturbado, um silêncio desgastante, enquanto Sofia palrava e Teresa sorria, Ana e José, não articulavam qualquer palavra, cada um concentrado em seus pensamentos, esses, de dor, de dúvidas.
Ana, não sabia o motivo porque José, antes, tão atencioso, tão meigo, agora portava-se assim, dessa forma, tão dura, tao seca.
Chegaram ao parque, onde Sofia, costumava brincar, Teresa, afastou-se com a menina, para ver se ambos conseguiam pôr fim a esse silêncio tão dorido.
José mexia em suas mãos, nervoso, queria perguntar-lhe sobre o homem, que estava com ela essa manhã, mas não tinha coragem. Tinha medo do que ia ouvir, Ana, encheu-se de coragem e perguntou:- José, que se passa consigo? Porque está assim nervoso, sente alguma dor? - Não Ana- respondeu José - estou perfeitamente bem - e sorriu, um sorriso forçado, que não deixou a Ana, manobra para mais conversas.
Hora e meia se passou, em que as palavras eram parcas, apenas resposta secas e monossilábicas.
Teresa ir para falar, mas optou por calar-se, sabia que Ana, não estava bem e fazer o jantar era uma fuga a José.
José sorriu, olhando Ana, um olhar terno e ao mesmo tempo duro, que emocionou--a, mas também a deixou inquieta.
Chegaram a casa, tendo no caminho um silêncio apenas cortado pelo palrear de Sofia, que tudo lhe era indiferente, a não ser, a companhia das pessoas, que ela tão pequenina, mas já os amava com intensidade
Ana dirigiu-se à cozinha e Teresa foi dar banho à menina, enquanto José, no mesmo silêncio, encaminhou-se para seu quarto.
Passava uma hora, quando Ana chamou-os para jantarem, mas para seu espanto, José não respondeu, preocupada, a correr foi até seu quarto, quando deparou com o mesmo, a chorar como uma criança.
José, por favor, que se passa? Que tem? Diga-me, não me deixe nesta angústia- Disse Ana, com o semblante carregado de preocupação.
Porquê Ana, porquê? Porque não me disse que havia um homem na sua vida?
Olhando-o incrédula, Percebeu que afinal, ele tinha-a visto com Inácio, mas se ele amava a esposa, que importava se ela tinha outro homem ou não? Não respondeu, continuou a olhá-lo em silêncio, apertando com mais força suas mãos, como a pedir ajuda, para ter coragem de confessar, que nessa hora, já não havia ninguém na sua vida apenas esse homem que estava à sua frente, que ela tanto amava.
Levantou-se, pegando em sua mão disse - José, venha jantar, ao serão falo consigo, agora Teresa e a menina esperam-nos. Dizendo isso, puxou-o para fora do quarto, tirando de seu bolso um lenço, dizendo - limpe essas lágrimas, não quer que Teresa e Sofia, o vejam a chorar.
O jantar apesar de tudo, foi ameno, olhos carregados, com uma mistura de meiguice, de amor, de dor, tudo isso sentia Teresa, ao olhar aqueles dois, que se amavam, e nenhum tinha coragem de confessar.
Ana vá para a sala com o José e a menina, que eu trato da cozinha - disse Teresa sorrindo, olhando-os de frente, como quisesse transmitir alguma mensagem.
Sim, José... vamos para a sala, Sofia brinca um pouquito, enquanto conversamos - respondeu Ana, puxando mais uma vez pela mão de José, que levava sua filha ao colo, na sua cadeira de rodas.
Sentaram-se, no sofá, sem antes Ana, colocar Sofia nos chão para a menina brincar, até Teresa ir deitá-la.
José - Disse Ana com sua voz cortada pela emoção - Vou contar-lhe minha vida, porque só conhece a médica.
Começou por contar sua vida na Figueira da Foz, como foi feliz na sua adolescência, o tempo em que em Coimbra tirou seu curso e mais tarde para se efectivar, foi para Braga.
José ouvia-a em silêncio, ele queria saber tudo sobre Ana, mas neste momento só lhe interessava uma coisa...Quem era o homem que no parque estava de braço dado com ela. Mas não perguntou absolutamente nada, sabia que Ana chegaria lá.
José- continuou Ana - Há 6 anos conhecia um médico no hospital, um médico, que José conhece bem, o cardiologista. Começamos a namorar e pouco tempo depois, ele pediu-me em casamento.... Silêncio de parte a parte após essa confissão- Ana continuou, já sem forças para dizer o que tinha para dizer, mas ele merecia saber toda a verdade, uma vez que ela sabia de sua vida toda.
- Fiquei muito feliz porque amava demasiado Inácio, mas..... O tempo foi passando e ele nada de falar em casamento, dávamo-nos bem, mas ele só vivia para a medicina, carinhos, pouco os tinha, no entanto, sabia que ele me amava tanto como eu a ele. - Silenciou de novo, suspirando. José mais uma vez não a interrompeu, seu coração estava amargurado demais, depois de ouvir aquela confissão de amor, que Ana nutria por seu noivo.
-Passaram-se seis anos- continuou Ana- até que um dia conheci alguém, que fez meu coração estremecer, as idas de Inácio lá a casa, estavam a tornar-se insuportáveis, eu, pouco falava e ele o pouco que falava também, era a discutir...parou de novo, suspirando mais uma vez.
Continuou, levantando-se e de costas continuou a andar muito devagar - Esse homem por quem meu coração estremeceu, não era livre, ou melhor, seu coração tinha dona, e sentia-me muito mal, cada vez que o ouvia falar na sua amada.
- Sabia que esse homem jamais seria para mim, mas, tinha chegado a altura de acabar com essa farsa, Inácio telefonou-me a convidar para sair e senti que tinha chegado a hora de falar com ele, de ser sincera.
Estava de costas para José, para que ele não visse suas lágrimas caírem por seu rosto, mas o mesmo, sentiu que sua voz estava cortada pelas lágrimas, mas mais uma vez calou-se...queria saber toda a verdade, antes de lhe confessar seu amor.
- Nesse mesmo dia, em que saímos, Inácio queria comprar-me o anel de noivado e marcar a data de casamento, mas... não deixei, falei, e disse-lhe que não poderia casar com ele, porque amava outro homem, mas também lhe disse que esse amor não era correspondido.
Dizendo as últimas palavras, começou a soluçar, sempre de costas para José.
Sem que ela se apercebesse, ele levantou-se, sem fazer barulho, aproximou-se de Ana, e suavemente abraçou-a por trás.
Ana assustada com aquele abraço, nem lhe passou pela cabeça que fosse José, pois ele não andava.
Virou-se rapidamente e à sua frente estava José levantado e sorrindo para ela.
José - gritou Ana- está de pé, andou, como é possível?
José sorrindo, não respondeu a essa pergunta, abraçou-a de novo e muito suavemente murmurou: - Ana... esse homem, não tem o coração livre, não, mas não é pela pessoa que a Ana pensa, mas sim por uma mulher maravilhosa, que com sua meiguice, sua atenção, conquistou este coração...... Amo-te Ana - Disse José tratando-a por tu.
Ana olhava-o atónita, não queria crer naquelas palavras, mas, a verdade estava diante de seus olhos, José abraçava-a com carinho, secando suas lágrimas com a palma da mão.
Pegou nela pela mão e obrigou-a a sentar-se, onde lhe contou, como começou a andar, e os treinos que fazia todos os dias com Teresa.
- Com Teresa - perguntou Ana- Mas ela nunca me contou, ele sorrindo disse - proibi-a de contar, pois queria fazer-te surpresa.
Ana ainda surpresa por aquela revelação, nem se apercebeu, que José beijava seu rosto, acariciava-lhe as mãos, e por fim, agarrou em seu rosto, beijou sua boca suavemente, dizendo... Como te amo, minha estrela, como conseguiste conquistar este coração que se estava tornando pedra...
Pegou na menina, caminhando para o quarto da mesma, quando sentiu um abraço à volta de seu pescoço.
- Ande cá sua marota - disse Ana, beijando-lhe o rosto - sabe que José já anda?
Teresa virou-se e sorriu para José, um sorriso de cumplicidade, de amor e carinho maternal, respondendo - Sim minha filha, eu já sabia, e esperava ansiosa que chegasse o dia da Ana também saber, sinal que vosso amor, foi revelado.
Com a Sofia ao colo, e abraçada a Ana, aproximou-se de José, levantando-o - Vem cá meu filho, dá um beijo aqui à velhota, que está morrendo de felicidade- dizendo isso, colocou a menina no chão e abraçou-se aos dois, chorando, como se mãe deles fosse.
PARTE XX
Os dias foram passando na maior harmonia, Ana, deixou sua casa e foi viver com José, sua felicidade era quase irreal, estar ali, naquela casa, com as pessoas que ela tanto amava.
Passaram-se meses, e eis que tinha-mos o verão à porta, Junho, sorria, com seus sol brilhando. Sofia estava cada dia mais crescida, já andava e falava no seu espanhol, que todos entendiam, pois a criança nunca se calava, era a alegria daquela casa, daqueles pais, daquela avó emprestada que vivia em constante felicidade, sempre sorrindo, com amor.
Ana ainda não tinha contado a seus pais, queria ir com José, Teresa e Sofia à Figueira, fazer-lhes uma surpresa, para passar uma semana com eles, já que no Natal e na Páscoa, não puderam lá ir, porque se encontrava de turno.
Ana tirou duas semanas de férias, e na quinta-feira, arrancaram de manhã muito cedo, para poderem antes de chegar a casa dos pais, passar pela praia e almoçarem por lá.
Chegaram à praia, Teresa levou a menina a passear, deixando-os sozinhos.
Meu amor - disse José - Cada dia te amo mais, nunca pensei que a felicidade batesse de novo à minha porta.
Ana sorriu e beijou-o, primeiro, com suavidade, depois com a intensidade com que o amava - dizendo de seguida- Também te amo, meu querido, vou fazer dos meus dias a tua felicidade e da nossa menina.
José olhou-a com carinho, abraçando-a, deixando-se estar assim em silêncio, silêncio essa que foi interrompido por Sofia, com seus gritos....Mamã, Papá- água.
Ana sorrindo, levantou-se e levou-a até à água, Sofia, nunca tinha experimentado a água do mar, e sorria de felicidade, aquela criança, não tinha medo de nada, porque seu coraçãozito, só conhecia as palavras carinho e amor.
Molhou o corpito de Sofia, que feliz, com suas mãozitas, atirava água para cima de Ana, e foi assim uns minutos largos, até que José chamou-as, porque era horas do almoço.
Chegando ao areal, Ana entregou a menina a Teresa, que a vestiu, seguindo todos para almoçar.
O almoço foi alegre, não havia naquela mesa um sinal de tristeza, e foi com essa alegria que chegaram a casa dos pais de Ana.
Como não eram esperados, seus pais estavam dormindo a sesta. Ana, com a menina ao colo, entrou no quarto deles, dando-lhes um beijo suave, para que não se assustassem.
- Meu Deus- disse a mãe, esfregando os olhos- Não creio no que estou vendo, minha filha e minha neta aqui....acorda João, olha as nossas meninas aqui connosco.
Ana colocou a menina no meio deles, que foi logo puxando os cabelos, de João, não se esquecendo o que José lhe tinha ensinado, que aqueles dois seres ali deitados, eram seus avós.
- Vovô - Vovó - gritava a menina de felicidade, Ana e seus pais, ficaram de boca aberta, não cabendo a alegria em seus corações.
Ana foi logo apresentando, elogiando um e outro, terminado com a seguinte frase - Mãe- Apresento-vos minha segunda família.
Os pais cumprimentaram Teresa e José, sem que a mãe não deixasse de olhar bem de frente para os olhos de sua filha, onde constatou que aqueles olhos não eram os mesmos do ano passado, agora havia um brilho de felicidade.
Saíram todos do quarto, foram para a sala, João sempre com Sofia ao colo, como tivesse medo, que a tirassem dali naquele momento, o que deixou Ana e José felizes, por verem o amor que aqueles dois seres tinham já pela criança.
Ana, deixou-os na sala, pegou pela mão da mãe e de Teresa, dizendo- vamos para a cozinha, preparar o jantar, minhas irmãs devem vir com fome do trabalho...sorrindo
A mãe compreendeu logo o que a mesma queria, outra coisa senão falar com ela, sorriu e as três la foram para a cozinha.
- Mãe- começo Ana, com voz um pouco tímida- Eu e José estamos noivos, e tudo devemos a esta santa, que um dia tive a felicidade de a contratar para ama de Sofia.
Teresa ficou envergonhada, agarrou-a pela cintura dizendo- Minha senhora, santa é sua filha, que além de me dar emprego, ainda me deu esta família linda, amor, carinho e lealdade.
Maria, mãe de Ana, não cabia de felicidade, sabendo que sua filha estava longe deles, mas tinha aquela gente boa tomando conta dela.
Mandou-a embora para junto de José e do pai , dizendo - Vai contar ao teu pai, esta alegria- Teresa e Ana sorriram de cumplicidade, tendo a segunda, saído pela porta dizendo - Se conhecemos José, a esta hora, o pai já sabe.
Chegou à sala e viu a conversa harmoniosa entre os dois, depreendendo que José já lhe tinha contado que estavam noivos.
Sentou-se no meio de ambos, tendo seu pai passado seus braços pelos ombros da filha, dizendo - minha filha, como estou feliz, José já me contou da vossa felicidade.
Ana apenas sorriu e seu pai, tal como sua mãe viu que aquele sorriso era duma mulher feliz, duma mulher que estava bem com a vida.
Na cozinha, Teresa e Maria iam conversando, tendo Teresa posto ao corrente de tudo o que se tinha passado com sua filha.
Notava-se que ambos sentiram carinho uma pela outra, logo de início, e quando Ana chegou de novo à cozinha, ouviu-as tratarem-se por tu e ficou feliz, radiante.
Desde que chegaram àquela casa, nenhum dos três consegui mais pegar Sofia ao colo, pois a criança foi monopolizada pelas irmãs, que entretanto tinham chegado e pelos pais de Ana.
Ao jantar, José, levantando-se disse- Minha família - por seus olhos, corria um fio de lágrimas- Ana tirou duas semanas de férias, eu trabalho por conta própria, então decidimos ficar aqui uma semana, e na seguinte, quero levá-los para Braga, para passarem um mês connosco.
Silêncio se fez naquela sala, ninguém, nem mesmo Ana ou Teresa sonhavam ouvir da boca de José, aquele convite e ambas, juntaram sua voz à dele dizendo - Sim, aceitem, Ana fingindo que chorava continuou - aceitem, porque sinto tantas saudades vossas.
A semana passou rápido, entre as idas à praia, e passeios, tinha chegado o dia da partida.
Como combinado, os pais de Ana, foram com eles. João, um homem novo ainda de 60 anos, quis levar seu carro, indo com José e Sofia, e a mãe de Ana não deixou a filha conduzir, levando Teresa com elas.
Pararam umas três vezes pelo caminho, para lancharem e esticarem as pernas, chegando a Braga pelas dezanove horas, ainda de dia, o sol radioso, batia nos vidros, daquela casa linda, onde vivia José com sua família.
Teresa, sempre pronta para ajudar, pegou em Maria pela mão, para que a mesma fosse escolher o quarto onde iram ficar, para que ela pudesse fazer a cama, coisa que Maria não aceitou dizendo- Então ajuda-me, sozinha não faz nada, não é nossa empregada. Mas sim avó da nossa neta - sorriu.
Os pais ficaram um mês em casa de José, as irmãs, acabaram por ficar só uma semana, aquela em que Ana estava de férias também, indo as duas lá passar o resto dos dias, só aos fins de semana.
Estava chegando o dia de partirem, José convidou para o jantar, seus amigos mais íntimos e seu advogado.
Durante o jantar, José, pegou na mão de Ana, fazendo-a levantar-se dizendo - Aqui diante de todos os presentes, peço a seu pai, a mão desta mulher maravilhosa, que me devolveu a vida - olhando para João, à espera dum sinal de consentimento - Apenas ouviram um soluçar ao fundo da mesa, João chorava, ao mesmo tempo que dizia - Minha filha, o hoje é o dia mais lindo da minha vida, a seguir ao vosso nascimento - olhando para as três irmãs.
Brindaram aos noivos, com a promessa de José, que em Dezembro iriam estar todos juntos para o seu casamento com Ana.
Dizendo isso, meteu a mão ao bolso, e tirou de lá , uma caixa quadrada, linda, prateada, dentro dela, brilhava um anel de diamantes.
-Para ti minha princesa, para que sejas mãe do nosso segundo filho, porque Sofia, não nasceu de ti, mas foste tu que a criaste com amor de mãe - Dizendo isso, beijou-a diante de todos os presentes, um beijo que se via, cheio de amor, carinho e bondade.
A felicidade era total naquela sala, Ana tinha as lágrimas nos olhos, quando mostrou sua mão delicada, onde o anel brilhava tanto, como seus olhos.
Pegando de seguida em Sofia, abraçou o noivo - chorando e olhando os dois, disse- minha família querida- amo-vos, são sol da minha vida, a estrela que me ilumina.
FIM
30/04/2014
Elizabete Mota
Dedico este conto ao meu pilocas "Tiago"....que hoje faz 5 meses... e à sua mãe "Minha menina" esperando, que no futuro, ambos, possam encontrar alguém...meigo...suave, que os ame com intensidade.
25/07/2009
